segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobre a chuva

Hoje, eu saí do trabalho e estava chovendo pacas e eu tinha esquecido todos os meus quatro guarda-chuvas em casa e não tinha nem meio real para comprar outro. E também não ia mesmo achar onde comprar um guarda-chuva às oito da noite na Praça da Sé...

Da outra vez, eu decidi achar o lugar para comprar um guarda-chuva com cartão. Me molhei horrores até chegar a uma loja na Rua Direita e comprei o guarda-chuva mais barato que tinha e que, obviamente, era também o mais horrendo (alguém vai entender um guarda-chuva com estampa super colorida de praia e sol?!?! É um tapa na cara, não???) e assim que saí da loja, acolhida embaixo do meu novo guarda-chuva ridículo, a chuva parou.

Ah, não, dessa vez isso não ia acontecer. Consegui uma carona de guarda-chuva até o metrô e apostei que a chuva ia parar até eu chegar ao meu destino.
Mas então que cheguei na Consolação e seguia chovendo. Ou chovia ainda mais.
Aí, como autopunição por ter quatro guarda-chuvas sequinhos na minha casa e nenhum na minha bolsa, resolvi que eu merecia mesmo era tomar chuva.

E também porque eu achei que a chuva estava valendo para eu lavar a alma.
E saí dedicada a lavar a alma com a chuva ácida que cai em plena Paulista, andando as seis quadras que separam minha casa do metrô.

Outro dia apostei nas lágrimas. Ou melhor, elas vieram sozinhas. E o meu choro compulsivo até o sono, com direito a abraço apertado de cuidado do namorado, fez uma boa diferença para deixar alguns pesos para trás.

Hoje apostei na chuva.
Saí andando embaixo de chuva, sem pressa, como se estivesse um tempo agradável para caminhar.
E vim pensando em todo o peso que eu queria que a chuva levasse embora. E tudo o que vem me atormentando ultimamente. E tudo o que eu queria resolver. E tudo o que eu não queria resolver, que eu só queria mesmo que ficasse resolvido.

E todo mundo me achando um pouco louca.
São pouquíssimas pessoas que andam sem pressa debaixo de uma puta chuva.

E o cara que vende guarda-chuvas: Moça, não quer comprar um?
Moço, quem tá na chuva é pra se molhar, foi o que respondi.

E deixei a chuva levar tudo o que não ando conseguindo levar sozinha.
Mais ou menos como faço com o mar, no réveillon.
E estou apostando que a chuva tem o poder de fazer isso por mim. Ou estou esperando.

Se funcionou, eu ainda não sei. Sei que aqui estou eu, me sentindo de alma lavada... e talvez um pouco resfriada.


[E falar sobre a chuva é tergiversar porque eu devia mesmo era falar sobre como é difícil ser chefe. Mas estou sem coragem de falar sobre isso e ter que ver onde vai dar, essa é a verdade. Fica pra análise.]