quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sobre os taxistas e os assuntos

Eu pego muito táxi. Indo e voltando de aeroportos, eu sou usuária de táxis em São Paulo, no Rio e em Brasília.

E eu fico fazendo minhas análises sobre os taxistas.
Por exemplo, taxistas em geral adoram falar sobre o “ser taxista”. Podem verificar, é só puxar esse tema, que eles contam por horas todas as peripécias da profissão.

E tem os temas específicos de cada lugar:
Os taxistas do Rio adoram conversar. A-do-ram. Sobre todo e qualquer assunto, mas especialmente sobre o Rio. Maior orgulho que os caras têm da sua cidade.
Os taxistas de Brasília também adoram falar de Brasília, mas é em outro contexto, ressaltando como Brasília é diferente de outros lugares. Os taxistas de Bsb não nasceram lá, em geral, então o papo sempre começa com o quando eles chegaram lá. Eles também são bem curiosos sobre São Paulo e fazem mil perguntas, se você deixar.
Os taxistas da terra da garoa, por sua vez, gostam de falar do trânsito. Ê, assuntinho... Mas, em compensação, se você tem que tomar um táxi e não tem vontade de conversar, o melhor lugar para se fazer isso é mesmo em São Paulo. Aqui, os taxistas, em geral, não puxam papo e respeitam solenemente o seu silêncio.
Mas observem: em geral. Sempre tem uma ou outra exceção, como a que eu conto agora.



Semana passada, voltando de Brasília, tomo o táxi em Congonhas. Depois de horas de aeroporto fechado por conta da chuva, chego em Sampa às dez da noite. Feliz, porque nesse horário não há mais trânsito, mas imensamente cansada por conta das horas de atraso. Nesse contexto, conversar com o taxista não estava nos meus planos.
Mas ele queria conversar. E como!
E ele inventou vários assuntos na tentativa de dialogar comigo.
E ele conseguiu errar em absolutamente todos os assuntos que ele tirou da cartola. To-dos.
E para vocês que me conhecem, podem ir imaginando a minha cara para cada pérola do taxista.

Vão vendo:

Eu entro no carro e ele fala que tinha acabo de ficar 4 horas no trânsito indo e voltando de Alphaville. (1º assunto errado: eu odeio falar de trânsito). E segue com o ainda bem que ele tem um aparelho de DVD em seu carro – e abre a engenhoca que se destaca no painel do carro (2º assunto errado: me impressiono zero com o aparelho). E nesse tempo todo de trânsito, ele conta que viu um filme quase inteiro, tirando a capinha do filme do porta-luvas, um sucesso policial super famoso que, obviamente, eu não conhecia (3º assunto errado: eu não vejo filmes policiais).

Sem sucesso na primeira empreitada.

“De onde você está vindo?”. “De Brasília.” “Puts, mas não é política, não, né?” (4º assunto errado: falar mal de política).
Sem resposta minha, ele “porque esse povo da política é foda. Você viu a Soninha?” “O que tem a Soninha?”. Indignado: “Ela é a favor da legalização das drogas!” (5º assunto errado: eu sou a favor da legalização das drogas).
E altas divagações dele sobre as drogas e narra uma trágica história familiar (6º assunto errado: lições de moral).
Um ou outro comentário meu sobre a necessidade de legalizar as drogas uma vez que as políticas repressivas não dão conta do problema, mas ele não estava ouvindo, obviamente.
“As pessoas usam drogas para fugir de seus problemas, em vez de resolver. É só fugir. Tipo ir no psicólogo... Você não é psicóloga, não, né?". Silêncio da minha parte. "Eu acho um absurdo ir no psicólogo para falar de seus problemas. Como um estranho vai saber resolver seus problemas melhor do que você?!?!” (7º assunto errado: falar mal de psicologia).


[vocês estão imaginando a minha cara???]


Um comentário meu sobre o método na psicologia. Sem efeito. Ele: “É tipo o que dizia um professor que eu tinha na escola. Um bichooooola, mas ele era legal. (8º assunto errado: homofobia).
O professor dizia algo sobre tomar calmantes para dormir em vez de resolver os problemas, mas, aí, eu já não estava mais ouvindo. Eu só estava pensando que quando chegasse em casa, precisava registrar esse diálogo...
E pensando que só faltava algo do tipo pena de morte para eu dar um grito.
E quando eu parei de interagir, ele “Moça, desculpa, eu estou falando muito, não é?”. “Não, moço, sem problemas” e, graçasadeus!, já estávamos do lado de casa.
Para terminar, ele abre a agenda e me mostra a foto da esposa e das duas filhinhas. “Lindas, né?” (9º assunto errado: mostrar fotos de família para estranhos).
“Lindas, moço, parabéns pela bela família” e saio do carro pensando em anotar modelo e placa para não correr o risco de pegá-lo outra vez.

[essa história do taxista me lembrou outro dia em um táxi em Bsb. Era o primeiro dia da moça motorista do táxi. Primeiro dia como taxista. Mas parecia também que era o primeiro dia dela em Brasília. E talvez o primeiro dia dirigindo um carro. Um terror! Estávamos em 5 no táxi. E o Zé Marcelo, que estava na frente, foi o responsável por indicar o caminho e - mais importante - acalmar a moça. Eu me acabei de tanto rir. E me acabei no maior esforço para rir por dentro. Pra não piorar ainda mais.]

[eu ando sem escrever aqui por total falta de tempo. Total.]

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sobre temporais e fantasmas

Domingo, eu peguei um temporal. O temporal.
Eu e o Gui.
Saímos do Burdog e quando cruzamos a Dr. Arnaldo, começou a chover. Muito forte e muito rápido. E ficamos sem escolha. Porque cruzar a Dr. Arnaldo e voltar para o Burdog demandava esperar o tempo do semáforo embaixo de chuva, o que já nos deixaria encharcados, e voltar para lá era nossa única opção de lugar abrigado na Dr. Arnaldo àquela altura do campeonato.
Então, a decisão foi seguir em frente.
O meu singelo guarda-chuva (sim, eu estava com ele!!! e ainda fiquei toda feliz quando começou a chover porque provei para o Gui que a minha bolsa, que pesava toneladas e que ele estava carregando, tinha mesmo itens absolutamente necessários) não servia para absolutamente nada diante do aguaceiro que caía do céu. Aliás, até servia, como constatamos quando o vento virou para cima o guarda-chuva, aí, nós nos demos conta de que ele era um ótimo recipiente para armazenar água. Massss, naquele momento, água era a coisa de que menos necessitávamos...

Ok, chovia e nós estávamos ficando absolutamente encharcados. O tênis do Gui era uma piscina, os meus pés nadavam na sandália e na leptospirose e minha saiona pesava outras toneladas.
Mas ainda que tomando uma super chuva, caminhávamos felizes e apressados em direção à casa.

E o Gui dizia - enquanto caminhávamos debaixo de muita e muita chuva - que já que eu tinha escrito sobre a chuva, eu deveria escrever sobre o temporal dessa vez. E estávamos pensando que o nome do post tinha que ser "Sobre o temporal", mas foi aí que nós vimos o fantasma.
E o post teve que sair sobre o temporal e sobre o fantasma.

Quer dizer, naquele momento, não nos demos conta de estar vendo um fantasma...
Cruzamos com um cara que estava parado tentando se proteger da chuva debaixo da estrutura de um portão na frente do hospital (ou seria do cemitério?) da Dr. Arnaldo. Sujeito estranho. Todo de branco e com um olhão arregalado. Constatamos: sujeito estranho. Mas para quem mora em São Paulo, ver pessoas estranhas não surpreende muito.
Ok, passamos rápido por ele (que estava paradinho - pa-ra-di-nho) e seguimos nosso caminho em direção à Rebouças.
Até aí, tuuuudo bem.

Quando estamos descendo a Rebouças, já do outro lado da rua, já mais de uma quadra pra baixo da Dr. Arnaldo, quem cruza com a gente?
Isso! O sujeito estranho. Subindo a Rebouças!
E não, não, ele não estava correndo, ele não estava ofegante, ele caminhava tranquilamente Rebouças acima.
Como pode?!?!?!
Eu olho pro Gui e pergunto "você está vendo isso?".
E o Gui estava vendo e pensando se era loucura da cabeça dele.
Como ele chegou aqui?!?!
Mas, para o Gui, a resposta era óbvia - era um fantasma.
E eu fiquei teorizando sobre como o sujeito poderia ter chegado até lá, mas de fato, não nos parecia nada possível.
Era um fantasma!
E eu que a-do-ro o desconhecido, fiquei doida para ir lá falar com o fantasma, mas o Gui não deixou.

E aí, fomos para casa comentando que vimos o fantasma da Dr. Arnaldo. Seria o Dr. Arnaldo?
E quando chegamos ainda dividimos a história com a Ester que, de tão cética, ficou tão impressionada que até desistiu de ver o Bergman que ela tinha escolhido para a noite de domingo.

Já eu, não duvido de nada. E tampouco me impressiono com fantasmas.
Então, estou até agora super intrigada tentando descobrir como o sujeito chegou tão rápido até ali, ou então, tentando descobrir o que o fantasma queria com a gente.
Alguém o conhece?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobre a chuva

Hoje, eu saí do trabalho e estava chovendo pacas e eu tinha esquecido todos os meus quatro guarda-chuvas em casa e não tinha nem meio real para comprar outro. E também não ia mesmo achar onde comprar um guarda-chuva às oito da noite na Praça da Sé...

Da outra vez, eu decidi achar o lugar para comprar um guarda-chuva com cartão. Me molhei horrores até chegar a uma loja na Rua Direita e comprei o guarda-chuva mais barato que tinha e que, obviamente, era também o mais horrendo (alguém vai entender um guarda-chuva com estampa super colorida de praia e sol?!?! É um tapa na cara, não???) e assim que saí da loja, acolhida embaixo do meu novo guarda-chuva ridículo, a chuva parou.

Ah, não, dessa vez isso não ia acontecer. Consegui uma carona de guarda-chuva até o metrô e apostei que a chuva ia parar até eu chegar ao meu destino.
Mas então que cheguei na Consolação e seguia chovendo. Ou chovia ainda mais.
Aí, como autopunição por ter quatro guarda-chuvas sequinhos na minha casa e nenhum na minha bolsa, resolvi que eu merecia mesmo era tomar chuva.

E também porque eu achei que a chuva estava valendo para eu lavar a alma.
E saí dedicada a lavar a alma com a chuva ácida que cai em plena Paulista, andando as seis quadras que separam minha casa do metrô.

Outro dia apostei nas lágrimas. Ou melhor, elas vieram sozinhas. E o meu choro compulsivo até o sono, com direito a abraço apertado de cuidado do namorado, fez uma boa diferença para deixar alguns pesos para trás.

Hoje apostei na chuva.
Saí andando embaixo de chuva, sem pressa, como se estivesse um tempo agradável para caminhar.
E vim pensando em todo o peso que eu queria que a chuva levasse embora. E tudo o que vem me atormentando ultimamente. E tudo o que eu queria resolver. E tudo o que eu não queria resolver, que eu só queria mesmo que ficasse resolvido.

E todo mundo me achando um pouco louca.
São pouquíssimas pessoas que andam sem pressa debaixo de uma puta chuva.

E o cara que vende guarda-chuvas: Moça, não quer comprar um?
Moço, quem tá na chuva é pra se molhar, foi o que respondi.

E deixei a chuva levar tudo o que não ando conseguindo levar sozinha.
Mais ou menos como faço com o mar, no réveillon.
E estou apostando que a chuva tem o poder de fazer isso por mim. Ou estou esperando.

Se funcionou, eu ainda não sei. Sei que aqui estou eu, me sentindo de alma lavada... e talvez um pouco resfriada.


[E falar sobre a chuva é tergiversar porque eu devia mesmo era falar sobre como é difícil ser chefe. Mas estou sem coragem de falar sobre isso e ter que ver onde vai dar, essa é a verdade. Fica pra análise.]

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sobre os russos (ainda)

(mas dessa vez são uns russos menos trágicos que Dostoievsky)

Enfim, chegou à Sampa a exposição Virada Russa, com boas obras da coleção do Museu de São Petesburgo.
Cheinho de Maliévitchs para o deleite da Mari que tem a sua clássica série suprematista tatuada nas costas.
(Mari, vá lá ver urgente!!!)

Eu já tinha visto no CCBB de Brasília, ao som de Regina Spektor, pra compor. E já tinha a-ma-do.
Hoje, aproveitei a tarde livre que eu ganhei, porque o servidor precisava ser trocado lá no escritório, e fui ver de novo.
No CCBB de São Paulo. Ao som de Arnaldo Antunes (em quem eu viciei por culpa do Guiba), que não é russo, mas também deu jogo.
Super recomendo.
E acompanho.
Porque, até o dia 15 de novembro, eu ainda vou ver denovomaisalgumasvezes.

e se eu tivesse mais tempo, eu publicaria aqui as imagens de algumas obras...
pensamento constante para ver se realiza: um dia eu vou ter mais tempo.
Haha.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sobre Raskolnikov

Outro dia, eu tive um sonho. Ou melhor, um pesadelo.
Era algo meio Dostoievsky.

Sonhei que o Bruno tinha matado uma mulher. E que eu e a Ester sabíamos.
Mais do que isso, eu e a Ester tínhamos incentivado o assassinato.
Não me perguntem quem era a mulher - eu não sei -, mas ela tinha alguma coisa que representava algum problema e ela faria alguma revelação que foderia a vida do Bruno.
Aí, eu e Ester tínhamos sugerido que o Bruno resolvesse o assunto. E a mulher apareceu morta.

O meu sonho começou nos pós assassinato. Nós numa casa de praia, à la congresso interno.
Uma galera. Um certo pânico instalado. Todo mundo querendo comentar o assunto e eu e Ester trancadas no banheiro pensando na nossa responsabilidade e no que fazer com isso.
Momentos de tensão absurdo. Pensamos em chamar o Bruno. A Ester só chorava e depois dava uma racionalizada meio surtada (acho que eram duas Ester). E na tensão master, alguém bate na porta, pede pra falar com a gente e eu acordo. Fim.

Bizarro, né?

Levei pra análise no dia seguinte de manhã.
E minha analista: "por que será que você sonhou com o Bruno?".
Ok, a psicanálise não serve para interpretar sonhos.

A interpretação que fica por minha conta: tenho que terminar de ler Crime e Castigo para ver como acaba a história desse maldito Raskolnikov. Não saber, me causa pesadelos...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Sobre derrotas e sensações

[Estava respondendo a um email da Laura. E ela me escreveu contando do seu caso (que num ato falho escrevi caos) e o compara a perder a eleição do XI. E respondendo a ela, fiquei com a reflexão abaixo.]



A sua descrição do que ocorreu como a eleição do XI foi super forte. Lembrei de um monte de coisas por aqui. Um monte de sensações...
Tive um pouco disso nesse último final de semana com a Conferência de Segurança Pública. E fiquei na dúvida se deveria sofrer mais ou menos do que eu sofria no XI.
Isso porque, já calejada na vida, sofrer parece sempre exagerado e a tendência é diminuir o impacto que as coisas têm na nossa vida.
No entanto, quando a gente fazia movimento estudantil, perder a eleição significava a derrota de um projeto político de alcance limitado.
Perder a Conseg significa a derrota de um projeto político de segurança pro país. É muito mais importante, mais relevante, merecia ser mais forte.
Mas fato é que doeu bem menos.
E aí vou ter que concordar com meu pai quando fala do amadurecimento que vem com o tempo e só com o tempo.
E, mais madura, eu não me sinto menos radical, mas me sinto menos dramática, talvez.
Até porque são anos construindo um projeto político de país, que tem a ver com o ME e com o trabalho que é militante.

Sobre a primeira Conferência Nacional de Segurança Pública

A primeira Conferência Nacional de Segurança Pública aconteceu no último final de semana.
Ali em Brasília, estavam reunidos milhares de pessoas entre sociedade civil, trabalhadores da segurança e gestores da área.
Com as milhares de pessoas, milhares de intenções, de desejos e de expectativas.
No final, apenas 10 princípios e 40 diretrizes.
No saldo, a sensação de trabalho cumprido e muitas frustrações.

A Conseg foi um momento político único que trouxe o debate de segurança pública para o primeiro plano. Mais do que isso, trouxe o debate para o plano da segurança pública.
E isso é mesmo muita coisa. Para quem conhece e entende as dinâmicas das polícias, vai entender o que estou dizendo.
E não só para as polícias, mas a realização da Conseg obrigou um monte de gente a pensar sobre o tema. É aí que entram os movimentos sociais historicamente distantes do assunto, criminalizados constantemente, mas com uma cultura participativa constante.

E fomos todos à Conferência.
E os resultados dessa participação foram desastrosos para quem, como eu, trabalha e milita na área.
Os princípios e diretrizes aprovados na Conseg refletiram uma segurança pública que deve continuar pautada na repressão e em questões corporativistas.
Até entendo os trabalhadores da área que, aproveitando a primeira oportunidade de consolidar suas pautas, valorizar sua profissão e transformar sua realidade, tinham pleitos essencialmente relacionados a suas questões trabalhistas e corporativas, quando não eram competitivos entre eles.
Agora, acho lamentável que a sociedade civil tenha embarcado nessa onda e tenha referendado esse modelo de segurança.
E isso porque não se tratava da sociedade em geral, mas estou falando de sociedade civil organizada, os militantes de movimentos sociais e suas diversas causas: mulheres, jovens, negros, LGBTs, pessoas com deficiência, enfim.
O lance é que esses movimentos estavam todos lá representados pleiteando, juntos, mais repressão.
Suas pautas eram também corporativistas, por assim dizer: movimento LGBT pleiteando a criminalização das condutas homofóbicas; movimento feminista pleiteando cumprimento da Lei Maria da Penha; movimento de idosos pleiteando delegacias especializadas.
Controle da atividade policial, redução da letalidade policial, propostas de matriz curricular para formação de trabalhadores de segurança, construção da cultura de paz, participação na formulação da política de segurança, etc - temas essenciais para uma reformulação do modelo (que não tem dado certo! Alô!!!) existente, quem tinha era somente as pessoas da sociedade historicamente engajadas com o tema. Uns tantos pesquisadores, alguns gestores, pouco trabalhadores.
E aí que a segurança que escolhemos na Conseg foi essa aí que deseja a polícia penal para ter mais polícia na rua (que polícia?, ninguém quer se perguntar); que deseja mais crimes no Código Penal; que quer que as guardas municipais também andem armadas fazendo policiamento ostensivo; que entende que política de segurança se faz mesmo com direito penal, polícia, delegacias especializadas e prisão (imaginando que criminalizar uma conduta, criar uma delegacia para um público específico, botar mais gente na cadeia vai mesmo mudar uma sociedade...).
Desastroso resultado.

Saí triste da Conferência. E estou triste até agora.

E aí eu fico mesmo me perguntando se vale a pena consultar a sociedade sobre o tema da segurança.
Eu me lembrei muito do que aconteceu com o referendo do desarmamento em 2005. Vocês se lembram?
Para mim, era mais do que lógico - e absolutamente ilógico alguém discordar disso - que acabar com o comércio de armas de fogo no país é essencial para a redução da letalidade, ou seja, conforma uma política de segurança pública não pautada na repressão, mas na prevenção.
Mas aí vem a consulta pública e o resultado é o não. O país não quer acabar com o comércio de armas de fogo, ainda que diga querer parar de contar seus mortos.
Vai entender?!

Inúmeras justificativas para essa derrota de 2005.
Outras tantas para a derrota de 2009.
Eu fico com uma: com segurança não se brinca. E, infelizmente, quando a insegurança é um sentimento constante das pessoas (muito mais pelo medo do crime do que pela vitimização propriamente), não há racionalidade que resista. O povo quer repressão. E ponto.
É preciso entender, no entanto, que as estratégias puramente repressivas não têm funcionado em todos esses anos.
Se quisermos segurança mesmo, de fato e não só de direito, vamos ter que pensar muito além do direito penal, das polícias e dos presídios.
É o que eu tenho feito.
Alguém mais se habilita?

sábado, 22 de agosto de 2009

Sobre política e apolíticos

No último domingo, meu pai veio aqui em casa e comentou que o Estadão tinha noticiado que o Sarney tinha uns apartamentos num prédio na minha rua. E ele fala isso e vai olhar a janela: e é esse prédio bem aqui em frente ao meu.
Desde então, a Ester, o Bruno e outros amigos estão na campanha para colocarmos uma faixa aqui na janela, com um Fora Sarney.


Ainda não colocamos a faixa.
Agora há pouco, estou aqui em casa estudando e começo a ouvir apitos e gritos em frente ao prédio. É um ato, com umas cem pessoas (segundo a minha contagem), pedindo o Fora Sarney.
Não desci pro ato, mas fotografei.
E estava curtindo olhar tudo daqui de cima:
"ão, ão, ão, fora bigodão!"
"este aaaato não é secretoooo"
"este apartamento é nossoooo"
E por aí vai, com direito a caras pintadas e hino nacional.

E eu fiquei pensando se não ia pedir para eles me emprestarem uma faixa pra deixar aqui pendurada na janela até a próxima semana quando eles prometem voltar.
Então chega a hora do discurso. Eu estava tentando entender quem eram aquelas pessoas, até que o cara no alto-falante diz todo orgulhoso que ali não tinha partido político.
Broxei na hora.
Eu tenho mesmo preguiça da galera que se orgulha de não ser da política.
Pre-gui-ça.
Ótimo, então, se a galera que está num ato pela moralidade na política, pedindo a cabeça do presidente do Senado, tem desprezo pela política, eu fico me perguntando que raios de transformação política essa gente espera?
Sério mesmo.
Será que eles querem mudar os rumos da política nacional via ONGs?
Por favor, né!
Partidos políticos têm vários por aí. Para todos os gostos. Se nenhum te contentar, você pode sempre tentar fundar um novo.
Agora se orgulhar de não fazer política?!?!
Não dá.

Tá descontente, tome os rumos do processo. Ativamente.
Entre pra política ou pelo menos saiba em quem você vota, acompanhe o mandato de seu vereador, deputado, senador, participe de audiências públicas, tenha uma causa.
Agora, só vir aqui fazer um ato apolítico pela moralidade na política não resolve nada.
Se for um começo, beleza.
Se for tudo o que você vai fazer, pode ficar mandando correntes pela internet que você vai transformar mais o mundo.

E fora Sarney!

As fotos:




Sobre meditação

Quando eu voltei de viagem, ele chegou com uma orquídea.
Uma orquídea nova para morar na minha casa.
Alta, florida, rosa e branca e até cheirosa.

E com a minha nova orquídea, vieram as instruções de cuidados e um monte de certezas.
As certezas do dia-a-dia que merecem ser reafirmadas todos os dias.

E é o que a gente tem feito no todo dia dos nossos dias.
Porque ele sabe, e eu sei, e a gente sabe que é ali onde moram as certezas.
E as dúvidas. E os medos...

Mas a gente resolveu mesmo apostar nas certezas.
Nas verdades provisórias.
Até quando a gente puder.

E tomara que a gente possa por muito e muito tempo.

Voltando ao amor, ao sorriso e à flor.
Porque, de verdade mesmo, eu acredito.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sobre o cachorro louco

Então que é agosto e agosto é o mês do cachorro louco.
Até investi no google pra descobrir que raios o cachorro tem a ver com agosto, mas as respostas foram tantas e tão diferentes que não vale o registro.
Mas o que é relevante é que eu, mística que não sou, obviamente incorporei a onda de má sorte do mês.

Voltei de férias não faz nem uma semana, detalhe.
E minhas férias foram uma delícia e funcionaram bem para deixar toda a vida normal "em suspense", mas aí que eu volto e tudo volta ao normal, ou ao caos de sempre.

O trabalho acumulado e bagunçado - quem mandou deixar tudo por 15 dias? - e no escritório os computadores decidem fazer a revolução.
Saldo: vírus em várias máquinas, um troço muito importante que movimenta a rede queimado, a fonte do computador do estagiário frita e o notebook da estagiária que se decidiu pelo game over.
Tudo isso em 2 dias.

Mas para quem tá achando que é muito, eu tenho que dizer que não é só.
Porque em 3 dias, eu bati o meu carro 2 vezes. Sério mesmo.

A primeira, culpa minha.
A seguradora me pergunta: a senhora acredita que é a responsável pelo acidente?
E eu: totalmente.
E estou tentando convencer o seguro de que eu não preciso registrar um B.O. do meu caso porque eu estou ligando e assumindo a responsabilidade e o seguro tem que acreditar em mim que sou a segurada. Até porque eu não acho razoável ter que ir até a delegacia (não tem B.O. online nesses casos) incomodar a autoridade policial com o meu acidente de trânsito sem vítimas e sem polêmica.
E pior ainda porque quem tem que registrar o B.O., no caso, é o proprietário do outro carro, porque eu não posso narrar sozinha os danos sofridos por ele.
E se não bastasse o sujeito ter tido o seu carro albarroado por uma cidadã que atravessou o cruzamento sem olhar, ele ainda tem que passar horas na delegacia esperando que o delegado de plantão registre a sua ocorrência. Não dá, né?
Ainda não convenci, mas sigo tentando.

Mas se é fato que eu cruzei o cruzamento pensando que o amarelo piscante, que indica que eu não estava na preferencial, era só o semáforo ficando amarelo (e quando eu contei isso, minha chefe: "você estava alcoolizada? Não respondi), pelo menos tenho que dizer em meu favor que sou uma culpada bacana.
Assumo minha responsabilidade integralmente, faço todo o procedimento burocrático o mais rápido possível e ainda mando flores como pedido de desculpas (ok, essa ainda não fiz, mas pensei seriamente. É que todo mundo achou meio over...).
E o mais curioso é que na hora do acidente, eu fiquei tão arrasada com a minha distração e tão sentida pelo ocorrido, que o Luís (o proprietário do outro veículo) ficou mais preocupado comigo do que com os danos do carro dele.
Isso tudo foi na madrugada de sábado para domingo.

E na terça de manhã, indo para a análise, um sujeito bate no meu carro. Aí, a culpa era dele.
Quando ele me entrega o cartão: Luís.
Quase dei risada.
3 dias, 2 acidentes de carro com 2 Luíses.
Meio over, vai...

E então estou por aqui curtindo a onda de má sorte e quando chego em casa, o porteiro pede para falar comigo.
Pensamento: meu apê pegou fogo ou inundou (lembrei do meu caso de Paris que um dia eu conto aqui), ou ele vai seguir contando toda os dramas da sua vida amorosa de recém separado)...
Mas não!
Ele só queria me dizer que estava muito tempo para me falar que ele acha impressionante o fato de que eu sou uma mulher muito bonita e muito simpática, porque ele acha que as mulheres bonitas são em geral metidas e antipáticas. E ele terminou dizendo que eu devo continuar assim porque a minha simpatia será recompensada.
Gerson, ou melhor, Deus, cadê a recompensa?!?!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre a vida

No mesmo dia em que minha avó comemorou seus 80 anos, a bisavó da Ester faleceu.
Essa é mesmo a dinâmica da vida. Dias para rir e para chorar.
E nos 80 anos da minha avó, ou nos quase 100 da bi da Ester, cabem mesmo muitos dias para rir e para chorar.
Minha opinião é que, no saldo, contar os dias de risos ou de lágrimas não é o mais importante, desde que se viva intensamente. Sempre.

Fiz um discurso no aniversário da minha avó, que quero deixar registrado aqui:

Aniversários são, por excelência, momentos de celebrar a vida. No entanto, imagino que a vida deva ser celebrada, não só no dia do aniversário, mas no dia a dia de todos os dias.
Vamos, então, tomar o aniversário como um momento privilegiado de celebração da vida porque podemos celebrá-la com família e amigos reunidos.
E este é o momento.
E são 80 aniversários já, não é vó?
De 1929 pra cá é mesmo muita vida.
Um bom momento para lembrar de outros momentos. E talvez meu papel no discurso fosse ajudá-la e ajudá-los a lembrar desse monte de história que tem de lá até aqui, mas, a verdade é que só uma parte dos 80 anos da minha avó cabem nos meus 27.
Pedi ajuda para algumas pessoas do que eu poderia falar nesta data. E no fim, eu descobri que só quem poderia falar, com propriedade, sobre esses 80 anos de vida era minha avó. Afinal, são 80 anos e neles cabem mesmo muita história.
Outros que poderiam falar são vocês, amigos da minha avó, que podem lembrar de outras tantas histórias.
E minha mãe e minhas tias, suas filhas, que nos seus 50 e poucos ou muitos anos têm guardado mais lembranças na memória.
Já para mim e para meu irmão, nos nossos 20 e poucos, ou 20 e muitos anos, ficamos nós dois um pouco com a sensação de que dividimos só um pouquinho das histórias da nossa avó. E que ainda temos um tantão para descobrir.
Acho que é um pouco a sensação dos netos. Avós são pessoas muito muito próximas que por distantes na idade representam todo um mundo que nós não vivemos, mas de que descendemos.
Assim, fico mesmo sem poder contar as histórias que poderiam fazê-los rir ou chorar ou só lembrar.
Na impossibilidade de relatar as memórias, vou dizer então que ter minha avó como avó sempre foi um grande privilégio. E não só pelos rocamboles de chocolates que ela sempre sempre fazia pra gente (pronto, Peu, falei do rocambole!) ou dos quindins que ela levava toda vez que nos visitava.
A história dos quindins eu preciso contar: uma vez eu confessei para minha vó que eu adorava quindim, mas que minha mãe nunca acertava o ponto do quindim lá em casa (culpa do forno, mãe, ok). E desde então ela me levou quindins todas as vezes em que ia me visitar – e, depois de um tempo, nem era mais os quindins que ela fazia. Ela passou a comprar os quindins na padaria ou no supermercado, mas mesmo assim, visita da minha avó virou sinônimo de quindim. Até o dia em que eu tive que dizer, ok vó, eu gosto de quindins mas não taaaanto assim. Nisso foram uns 5 anos de quindins!
E quindins e rocamboles à parte. E também lagarto com mussarela ou pão francês mergulhado no café com leite à parte... E todas as roupas que ela fez pra gente – dos meus conjuntinhos pra dançar lambada – ai que horror! – às calças xadrez que o Pedro usava e ainda usa e que minha avó nunca nunca vai entender por que raios o cavalo e a cintura não podem ser usados em seu devido lugar... A realidade é que as lembranças e memórias que posso dividir sobre minha avó fazem mesmo parte da vida de todo o dia. São a nossa forma de celebrar a vida no dia a dia de todo o dia.
Mas como eu já tinha dito que a tarefa de contar histórias do passado eu tinha deixado sob a responsabilidade de vocês, eu vou dizer algo diferente.
Vou falar sobre algo que aprendi com a minha avó e que faz parte de quem sou hoje porque faz parte também de quem é meu irmão e de quem são minha mãe e minhas tias.
Minha avó sempre respeitou a nossa liberdade. Em todos esses anos de convívio, ela nunca disse o que deveríamos ou não fazer e nunca externou qualquer julgamento sobre as nossas escolhas. Não que eu me lembre, pelo menos. E ainda que ela insista em sempre tomar o lado do meu irmão, né vó?, ela sempre respeitou e tem respeitado nossas decisões.
Acho que esse tanto de liberdade que ela nos passa traz um tanto de responsabilidade, sem dúvida, mas traz também o constante aprendizado de saber-se quem se é e crescer por conta disso. Isso eu vejo na minha avó. Eu aprendi com a minha família. E eu vou transmitir para os meus filhos (os filhos que ainda vou ter, um dia vou ter, faz parte dos meus planos, no meu ritmo, tá bom vó? Vós?). Enfim, faz parte do repertório da minha vida, das coisas importantes que valorizo e que fazem de mim quem sou e quem vou ser.
Se eu puder dizer algo sobre os 80 anos da minha avó, e já que fui incumbida mesmo desta tarefa, digo que a Dona Marília sempre soube respeitar cada pessoa pelo que ela é, ainda que o ser de cada um não seja bem assim o que ela vislumbraria. E um tanto disso eu levo da minha avó. Da bagagem de vida que a gente traz da família.
Talvez o que eu diga aqui nem faça sentido para muitos de vocês, mas como o discurso cabe a mim, posso abusar...
E era isso o que eu queria dizer.
Que levo em mim um tanto da minha avó. E que isso é um privilégio imenso.
E eu quero desejar à minha avó que toda a vida que vem pela frente seja recheada de momentos bons como este. E que ela possa celebrar a vida no dia a dia de todos os dias. E que a gente possa continuar fazendo parte dessa história e dessa vida. Sempre.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre nada

E então que eu chego em casa e percebo que tinha mesmo largado o computador ligado.
E não faz nem meia hora que saí do escritório e, portanto, da frente do computador, mas mesmo assim, checo emails - pessoal e do trabalho.
Um emailzinho pra resolver rápido e depois disso me permito um momento de paz que há muito não me permitia: vou navegar pelos mundos virtuais que acompanho e ler outras histórias de outras pessoas que também trabalham um tantãoassim como eu, mas que guardam um tempinho para escrever algo em seus blogs.
E cheia de coisas para fazer ainda e mais outras tantas para resolver, eu me permito ir para longe daqui, para outras partes, outros tempos, viajando na narrativa de quem escreve tão bem sobre as coisas que aí estão, descortinando outro mundo neste mesmo mundo tão conhecido e tão meu.
E, longe assim, eu fico com vontade de escrever. Não para contar nada específico. Não para narrar um episódio insano da minha vida muitoinsana.
Mas vontade de escrever só para reviver o blog e lembrar um pouco de porque eu quis tê-lo e deixar por escrito o tanto de coisa que eu queria narrar para deixar registrado ou só para me lembrar mesmo.
E aqui estou.
E já tenho que ir porque o miojo ficou pronto e a noite será beeem longa.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre família e psicanálise

Tem umas coisas na vida da gente que não dá mesmo pra explicar.
Ou pelo menos, não dá pra explicar sem recorrer a algo de místico, de surreal ou de psicanalítico.
Para mim, uma dessas coisas é o meu caso de amor com Pernambuco.
Eu não conheço Pernambuco, nunca estive lá (pelo menos, não nesta vida), mas eu amo Pernambuco de paixão.
Assim, de um jeito bem inexplicável mesmo.
E eu sempre programo de ir nas próximas férias e as coisas vão rolando e eu vou para outros lugares, mas nunca pra lá, conhecer in loco minha paixão virtual.
Ok, mas a história não tem nada a ver com isso.
Ou tem.

Porque eu amo Pernambuco, eu A-MEI! a montagem de Assombrações do Recife Velho que a cia Os Fofos encenam montou há tempos.
E agora eles estão em cartaz com Memória da Cana, que é uma adaptação livre de Álbum de Família do Nelson Rodrigues, com um jeitão de Casa-Grande e Senzala.
E eu fui ver no maior espírito vou amar de novo.
E não é que me surpreendi?
Saí da peça meio na dúvida, meio abalada, pensando um tanto. Enfim...
Nelson Rodrigues montado a la Gilberto Freyre não é de fácil digestão, admito.
Aí, comprei o programa da peça.
E passaram uns diazinhos de digestão.
E eu li o programa inteirinho.
E então que me surpreendi de novo.

Aconteceu: A-MEI a peça.
Depois da digestão, amei a peça.

E super recomendo!

Para quem for ver, tenho 2 dicas:
1) prepare o estômago
2) compre o programa para lê-lo depois

E para quem leu até aqui, deve estar se perguntando "o que raios o nome do post tem a ver com o texto?".
É que, no fim, das origens na casa-grande e na senzala aos grandes centros urbanos do século XXI, quando se trata de família, a avaliação é "ainda bem que existe a psicanálise".

terça-feira, 30 de junho de 2009

Sobre segurança pública n. 2

Pois é, estou de novo naqueles momentos da vida em que não dá tempo nem de fazer cocô, sabem?
[Ok, Rê, eu sei que não devia ficar falando isso aqui...]

E por isso, não consigo atualizar o blog.

E é uma pena mesmo porque tenho vontade de colocar taaaanta coisa aqui.
Ok, se minha vida fosse assim um pouco, só um pouquinho!, mais simples, eu publicaria mais coisas, admito.
Mas se tivesse mais tempo, eu deixaria o blog mais atualizado, juro.

Bom, então na onda de muito trabalho e muito estudo e sem ter nem fim de semana de folga, vou publicar sobre trabalho mesmo.

Convite para todo mundo ir à Conferência Livre de Juventude e Segurança Pública que estamos organizando.
A Conferência será no sábado, dia todo, no Centro Cultural da Juventude - que é um espaço super bacana que fica logo ali na Vila Nova Cachoeirinha e que vale muito, muito, muito! uma visita.
Então, bora lá no sábado?
Se não for para debater segurança, pelo menos para conhecer o CCJ...
Que tal?
Ah, detalhe importante, apesar de ser uma conferência para a juventude, não tem limite de idade...
Cartaz abaixo.

Vejo vocês lá?


terça-feira, 16 de junho de 2009

Sobre os pequenos prazeres da vida cotidiana

[Resolvi fazer a lista como método pra combater o stress. Anotando mentalmente no caminho do trabalho à casa.]

- trabalhar no centro
- o shuffle de acordo com meu humor
- o trem novo da linha verde
- cheiro de garrapiñada na esquina da Paulista com a Haddock (e a memória do cheiro)
- chegar em casa em 20 minutos sem pegar trânsito
- minha casa

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sobre a situação na USP

Contando 2 graduações, estou na USP há 9 anos.
E desde então e antes disso a USP enfrenta greves e outras manifestações absolutamente legítimas e decorrentes do processo de sucateamento da universidade pelo qual estamos passando. Pelo qual a sociedade vem passando.

Confesso que, depois de muitas greves, fico um pouco com preguiça de entrar no debate e passo a questionar as estratégias grevistas dos movimentos que acabam ficando mais esvaziados e, com pautas menos consensuais, mais fracos. E lamentei muitíssimo a inexistência do Congresso da USP no ano passado por culpa de desarticulação dos próprios movimentos que tanto o desejavam.
No entanto, sou incapaz de achar que a greve é ilegítima e acho que devemos, sim, apoia-la.

E agora, depois, dos últimos acontecimentos eu acho isso ainda mais. Acho que temos que apoiar a greve, entrar em greve e ampliar o movimento.
Isso porque é um completo absurdo que a reitora ache que a melhor forma de cuidar do movimento grevista é com a tropa de choque da polícia militar.
Não é.

E mais absurdo ainda é a PM resolver se revestir de todos estereótipos de que quer se livrar e, por ordem de sei lá quem, ir para o confronto com estudantes, funcionários e professores.
Erro.
Tiros e bombas no movimento reforçam o movimento.
Tiro no pé da reitora. Tiro no pé da polícia.
E força para o movimento.
Movimento!

Resta saber se a comunidade universitária como um todo vai ficar indignada e parar para debater ou se ainda os estudantes, funcionários e professores que estão defendendendo a universidade vão continuar sendo a "minoria radical" que combate os moinhos de vento.

Recebi um montão de vídeos e textos sobre os confrontos.
Coloquei esse aqui:

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre os pedidos

São Longuinho, São Longuinho,
Se eu não tiver que ir denovomaisumavez pra Brasília na semana que vem, eu dou 3 pulinhos.

São Longuinho, São Longuinho,
Se eu chegar aqui na segunda-feira e toda a mudança estiver feita e todas as coisas estiverem arrumadas no andar novo e funcionando da forma devida, eu dou 3 pulinhos.

São Longuinho, São Longuinho,
Se a minha vida ficar um pouquinho (só um pouquinho?) menos complicada, eu dou 3 pulinhos.

.
.
.


Acho que, talvez assim, eu deveria mesmo era pedir pro Papai Noel...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sobre o pé frio

O dia está super frio em São Paulo.
O pé, não poderia estar diferente...

Quando, logo cedo, você sabe que o dia será foda:
Chego na passarela para atravessar a Rebouças, atrasada como sempre e morrendo de frio.
Olho os ônibus parados no ponto. São 3. Na seguinte ordem: Belém, Praça da Sé, Terminal Parque Dom Pedro II.
Os únicos 3 ônibus que eu posso pegar na Rebouças pra chegar direto no trabalho. Ali, enfileiradinhos.
"Será que um deles ainda estará lá quando eu chegar do outro lado da Rebouças?"
Penso "vou correr".
E corro.
Vou descer a escada e só tem velhinhos descendo a escada. E subindo a escada.
Penso "strike nos velhinhos?"
Ok, não faço isso.
E vejo os 3 ônibus que nunca chegam saírem juntinhos do ponto da Rebouças em direção ao meu trabalho.
Sem mim.

Penso "hoje eu não deveria ter saído do meio dos meus edredons".
Ok, mas não volto.
Vou pro ponto.
E encaro o dia.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sobre a agenda e as lembranças

Ao ler um amigo divagar sobre ter um cachorro, peixes, canários, ou plantas, olho para a orquídea aqui em cima da minha mesa.

"Quanto tempo será que passou desde que a reguei pela última vez???
Uma semana, duas, três?
Não, não faz tanto tempo. Mas será que faz sóóó uma semana?
Eu tenho viajado tanto que minha semana passa em dois minutos, então pode ser que já tenha se passado duas...
E agora? Eu rego ou não rego a orquídea???"

Porque tem todo um lance de regar uma vez por semana e só uma vez por semana, com meio copo d'água e só. Orquídeas não precisam de água.
Assim ele me disse. E eu anotei e me esforcei para lembrar sempre, sempre porque a orquídea é um presente cheio de significado.
E eu lembrei sempre sempre durante um tempo.

E agora? Agora eu já nem sei quanto tempo faz que não me lembro de regá-la.
Uma semana? Duas?

"Ah, se ele a visse, ele saberia se ela precisa de água. Só de olhar a cor das folhas, o jeito do caule, a terra...
Se ele a visse, ele decidiria.
Mas ele não vai vê-la.
E eu vou ter que decidir sozinha."

E estou me consumindo na dúvida sobre regar ou não regar a minha orquídea.
Por quê?
Se é só uma planta?...
O Mateus disse que morte de planta é sem apego e sem culpa.
Será???

É só uma planta, mas não vou lidar nada bem com o fato de tê-la matado.
Minha orquídea ainda é cheia de significado.
É, é só uma planta cheia de significado.
Apego. E culpa.

Então, eu não vou regá-la, para não correr o risco de encher de água e matá-la.
Ou melhor, eu vou botar, assim, só um pouquinho de água para garantir que ela fique um tantinho regada.
Porque orquídeas não precisam de muita água.
E vou anotar na agenda que hoje eu reguei a orquídea.
E que na próxima segunda, eu tenho que regá-la de novo.
Pronto, definido, segundas-feiras eu rego a orquídea.
Na agenda.

"Na agenda?
Não vai dar pra lembrar sozinha?
Antes, dava.
Hoje, não mais."

Com a agenda, vou garantir a vida da orquídea.
Já o significado...

sábado, 16 de maio de 2009

Sobre segurança pública

[só pra ninguém dizer que este blog não é sério...]

Semana passada, eu passei alguns dias trabalhando no Rio.
Na sexta, passei o dia no Complexo da Maré, um emaranhado de 14 favelas reunidas na zona sul do Rio, bem ali grudadinho na Avenida Brasil, com mais de 200 mil habitantes e cujo controle está dividido por 3 facções criminosas e mais uma milícia.
Quando saímos para andar pela Maré, caminhando pelas ruas estreitas, planas, numa lógica caótica que reúne um amontoado de lojas e barracas vendendo de tudo e casas empilhadas, sem pintura e sem beleza, me senti um tanto ameaçada.
Mas não foi pelo crime organizado que me senti ameaçada. Foi pela polícia.
Virando uma esquina, demos de cara com o Caveirão da PM do Rio.
Vocês já viram o Caveirão ao vivo?
É uma das coisas mais assustadoras que já vi na minha vida.
Sem brincadeira.

Imaginem um tanque de guerra. É assustador, não?
Agora imaginem esse tanque todo preto. Piorou, né?
E em vez de ser arredondado, o tanque tem formas retas. Não é aterrorizante?
E para completar ele ainda tem umas várias microjanelinhas com buracos embaixo por onde fica mirando o fuzil do policial que está ali dentro.
Parece aqueles carros de desenhos que se transformam em gigantescos robôs matadores, sabem?
Um completo horror.
Mesmo!



E avançado mais um pouco para dentro da Maré, a polícia civil está fazendo uma operação para caçar máquinas caça-níqueis. Policiais fechando a rua e o trânsito com vários carros atravessados e com enormes fuzis que eles levam pendurados no ombro tão displicentemente, como se fossem raquetes de tênis.

Não fiquei na Maré durante a noite, mas o que contam é que, quando anoitece, quem anda com fuzil pendurado no ombro não é mais a polícia, mas a molecada do crime.

Para mim, é muito óbvio que se isso é o modelo de repressão que estamos acostumados a ter, existe um erro absurdo na concepção de segurança que se tem. Isso porque tanques de guerra servem para inimigos. É coisa de exército em guerras internacionais.
Polícia, pelo contrário, deve proteger o cidadão e a cidadã.

Há anos, o Rio adota essa estratégia de repressão. E há anos já se percebeu que não funciona.

Ninguém aqui está defendendo o crime organizado ou sendo contra a polícia, mas é preciso entender que a forma de repressão corrente não é eficaz.
Estratégias eficazes de repressão ao crime passam por investigação e esclarecimento de crimes, sistema de justiça e sistema penal eficientes, confiança da população nas forças policias, enfim, tudo o que não está acontecendo hoje em dia.

Admitir que a violência é um dos mais graves problemas do país hoje e pensar uma nova segurança pública para dar conta desse problema é mais do que urgente.

Para quem tiver interesse de formular sobre isso, a hora é super adequada.
Isso porque estamos num processo de realização da primeira Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) no país. E todo mundo pode e deve participar.

A Conseg tem etapas municipais, estaduais, livres.
Eu estou envolvida com todas elas até o pescoço.

Então, fica o convite para quem quiser me acompanhar na empreitada:

Dia 28 de maio, quinta-feira, Conferência Livre de Segurança Pública na São Francisco. A partir das 9h00.

Dia 23 de maio, a partir das 8h00, mobilizações regionais na capital, nesses lugares:
Região Norte: Colégio Jardim São Paulo (Rua Leôncio de Magalhães, 382, Jardim São Paulo).
Região Sul: ESPM (Rua Doutor Álvaro Alvim, 123). Auditório Philip Kotler
Região Leste: UnicSul (Av. Dr. Ussiel Cirilo, 93 – São Miguel Paulista) Auditório Bloco D
Região Centro-Oeste: Universidade Mackenzie (Rua Piauí, 130, Consolação) Auditório da Escola Americana

Eu vou estar na Centro-Oeste.

A etapa municipal, propriamente dita, acontece dias 30 e 31 de maio, na FMU Liberdade.
Ainda não foram abertas as inscrições para acompanhar a etapa. Assim que abrir, eu aviso.

A etapa estadual (segunda quinzena de julho) é precedida de várias regionais em todo o estado. A metropolitana ainda não está marcada. Assim que tiver data, eu informo. Mas para quem está em outras cidades do estado, o calendário pode ser visto aqui: www.ssp.sp.gov.br/ConferenciaSP
É isso, para quem defende o processo democrático e participativo de formulação de políticas públicas, participar das etapas da Conseg é fundamental para ajudar a formular a segurança pública.
Mais informações sobre tudo da Conseg: http://www.conseg.gov.br/

domingo, 10 de maio de 2009

Sobre a distância n. 2

A vida tem dessas coisas.
Temos mesmo que aprender a lidar com a distância.


É assim.
O jeito que desenhamos nossas vidas vai nos levando pra um lado ou pra outro.
Algumas vezes para uns tantos quilômetros de distância de onde está uma parte importante de nós, nossos amigos.
Outras vezes, a distância nem é tanta, os quilômetros podem ser vencidos com uma hora e pouco e alguns reais que pagam a passagem de avião, mas a presença e a constância dos finais de semana ficam um tanto prejudicadas.

Esse último é o caso do Manu. Que foi embora pra Brasília no fim do ano passado e que faz uma falta danada no dia-a-dia da babilônia paulistana. E um vai sempre pra terra do outro e a gente não consegue casar as agendas para um encontro qualificado de jeito nenhum.

Já quem foi embora pra uma distância de mais horas e mais reais foi a Andi.
Hoje de manhã, ela embarcou mais uma vez para os Andes, pra encarar a neve da cordilheira e contribuir para o futuro econômico da América Latina e Caribe.

E eu, por aqui, na manhã de domingo aos prantos pela saudade que vou sentir.
Porque ontem eu passei o dia com ela e eu fui super forte. E enquanto ela chorava, eu dizia que sabia que ela estava fazendo a coisa certa, a melhor escolha, a decisão profissional que mais combina com ela e tudo isso e mais um monte de coisa que é a mais pura verdade mas que dói admitir.
Porque a coisa certa, a melhor escolha, a decisão profissional que mais combina com ela, a levam para muitos quilômetros de distância da minha casa. Justo agora que a gente morava do ladinho!

Mas o que me consola é que eu já fui embora uma vez e a Andi já foi outras duas e nossa amizade nunca ficou nem um pouquinho menor apesar da distância.
Aliás, a amizade só cresceu e cresceu.
E ela foi me visitar e viajar junto e eu fui visitá-la e viajar junto e eu voltei e ela voltou.
E no tempo passado longe, nós ficamos presentes na vida uma da outra por email ou por skype, dividindo as conquistas, os aprendizados, as viagens, as fotos e as pataquadas das confusões internacionais nas quais nos metemos invariavelmente.

E agora eu tenho que dizer que uma das pessoas mais queridas da minha vida mora lááááá em Santiago, no Chile.

Andi, te quiero un montón.


Pra iluminar o blog, só de textos, deixo um registro das andâncias pelo Chile, em março de 2008.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre a cereja do bolo

[Ontem o Fê tentava me convencer de que o inferno astral vai até o dia do aniversário "exclusive".
"Então, vai lá e conta isso pros astros, meu caro" foi a minha resposta.]

Ok, a fase infernal acabou, enfim.
Mas não sem um final em grande estilo para coroar o inferno astral.

É que no meu trabalho tem uma tradição de providenciar o bolo para a pessoa que faz aniversário.
E sempre tem toda aquele lance de manter o bolo em segredo para que o aniversariante não saiba que vai ter um bolo pra ele naquele dia e possa se surpreender ao ser convocado para uma reunião de última hora quando toda a equipe desapareceu e ao chegar na sala de reunião encontrar o bolo, com vela acesa, a Coca Cola e a equipe toda cantando "parabéns".
Obviamente que quase nunca funciona.

Ontem a minha surpresa já estava tão desmascarada que eu já tinha até escolhido que sabor de bolo eu queria e colaborado com a Carla na sugestão de onde comprar um bolo nas redondezas de nossa nova sede no centro.

Ok, achando que não teria mais possibilidade de surpresa, ontem eu me surpreendi! E como!

É que, descartada a mística, a Paula foi abrir a embalagem do bolo para cantarmos os tais "parabéns". E ela abre e fica surpresa. E a Maia olha e fica surpresa. E eu olho e também fico um taaaaanto surpresa!
O bolo de morango, daqueles com aquela coberturabrancabeeeemgorda e cheio de morangossuculentoscobertoscomaquelamelecacorderosa com um ar bem apetitoso, sabem?, veio sem um pedaço.
Sem um pedaço!!!
Um pedação inteiro daqueles bem triangular, cortado certinho, com cara de doceria, sabem?
Então, era esse o cenário desolador.

Isso deve ter uma explicação, claro. Foi o que todo mundo pensou.
E tinha, claro.
O boy - responsável por ir até a padoca providenciar a compra do bolo - tinha a explicação pro ocorrido.
A Carla mandou ele ir lá comprar um bolo de um quilo, mas, quando ele chegou na padoca, não tinha nenhum bolo de um quilo pronto. Todos os que estavam lá para serem levados na hora pesavam mais de um quilo. A solução encontrada? Tirar um pedaço do bolo para deixá-lo com um quilo, óbvio.
Simple like that! Não é???

E meu bolo de aniversário veio já cortado, sem aquele seu tradicional primeiro pedaço, com o qual as pessoas fazem seu pedido e entregam para uma pessoa especial, manjam???
Não é o ápice do inferno astral?!?!

Pois então que, se você foi ontem à Santa Teresa na Praça João Mendes e comeu uma fatia de bolo de morango daqueles com aquela coberturabrancabeeeemgorda e cheio de morangossuculentoscobertoscomaquelamelecacorderosa com um ar bem apetitoso, pode se sentir uma pessoa especial para mim, pois você está comendo o primeiro pedaço do meu bolo de aniversário.
E espero que a atendente da Sta. Teresa tenha aproveitado muito bem o meu pedido!

Humpf!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sobre diferenças culturais

[Na quinta, eu falei pra Renata que não tenho tempo nem pra fazer cocô. E ela riu e riu.
Não achou que fosse verdade...
Ok, achei o tempo de fazer cocô. Yes!
E com ele um mini-tempo para atualizar o blog]

Então que o inferno astral está enfim no fim (sim, sim, tenho fé).
E bailar la salsa foi o jeito de celebrar.

E, na salsa, a dulpa que mais fez sucesso de longe - assim, beeeeem de loooonge - foram as bailarinas Andica e Nanica. Elas!, as pequenas!
Dizem mesmo que as pequenas bailam melhor...

E histórias não faltam, podem apostar.
Mas na impossibilidade de narrar todas, vou ficar com uma da Andi.

Ela baila com o peruano. E o diálogo se dá todo em español.
Así:
...
- Yo soy de Perú (com sotaque de peruano)
- Ah, ¿sí?, ¿de Lima? (com sotaque argentino, ou melhor porteño)
- Sí, de Lima. Que barbaro (vixe, isso seria muito porteño, ok, ele não deve ter dito isso desse modo, mas foi nesse sentido...) que sabes cual es la capital de Perú. Y ¿que más tu sabes sobre Perú?
- Sé que en Perú hay más de mil tipos de papas...(ok, Andi, temos que admitir que isso foi estranho. Quem tem essa informação???)
- Síííí, más de mil tipos de papas y, de todas, tu eres la más linda...
- ¿¿¿...???

Alguém achou que isso era uma cantada?!?!?
Alguém, em sã consciência, canta uma mina chamando-a de batata?!?!?!?!

Só se for no Peru!

[E este post poderia se chamar "Sobre el dia en que la niña de Venezuela se transformó en papa". Depois a Andi explica.]

Ah, as diferenças culturais...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sobre a memória das coisas

"Or les souvenirs d'amour ne font pas exception aux lois générales de la mémoire, elles-mêmes régies par les lois plus générales de l'habitude. Comme celle-ci affaiblit tout, ce qui nous rappelle le mieux un être, c'est justement ce que nous avons oublié (parce que c'était insignifiant, et que nous lui avons ainsi laissé toute sa force). C'est pourquoi la meilleure part de notre mémoire est hors de nous, dans un souffle pluvieux, dans l'odeur de renfermé d'une chambre ou dans l'odeur d'une première flambée, partout où nous retrouvons de nous-mêmes ce que notre intelligence, n'en ayant pas l'emploi, avait dédaigné, la dernière réserve du passé, la meilleure, celle qui, quand toutes nos larmes semblent taries, sait nous faire pleurer encore."
(Marcel Proust, A l'ombre des jeunes filles en fleurs)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Sobre astrologia

Parem o mundo que eu quero desceeeeeeeeer!!!

Sério mesmo, precisa ser assim tão infernal o inferno astral?!?!
Tô imaginando como será o retorno de saturno...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre a saudade

A saudade que mais dói não é a do passado que já foi, mas a do futuro que poderia ter sido.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Sobre meu dia de Cinderela

[a Helga vai se interessar por essa, mas aqui não tem nada de Helgolandia, tá?]

É que depois do meu dia de fúria de anteontem, ontem foi meu dia de Cinderela.

É porque eu estava de traje passeio como pedia o convite (aliás, preciso comentar o lance para o qual fui convidada depois) e, no visual passeio, eu estava de meias finas.
Manjam aquela meia tipo meia-calça, mas não aquela que é calça, aquela outra que usa com cinta-liga, segundo a Ester, e que, se eu tivesse aprendido com a minha mãe, eu nomearia de meia 3/4 ou 5/6 ou 3/8, ou sei lá que raios de fração?
Então, isso.

Mas meus sapatos são os de sempre e eu compreendi que eles não comportam a fineza das tais meias.
E então que eu passei o dia perdendo os sapatos, tal como Cinderela.
Literalmente.

No meio da rua no centro de São Paulo, na escada do McDonalds, na escada do metrô, na escada do metrô de novo, no meio da rua de novo, na escada do metrô mais uma vez e outras dezenas de vezes tentando descer a Consolação.
Foi assim.

Na primeira vez em que dei um passo e o sapato ficou lá atrás, eu voltei pulando de um pé só para resgatá-lo e fiquei um tanto constrangida, tentando encaixá-lo no meu pé sem sujar minha meia no chão da Praça da Sé.
Aí, depois, o negócio ficou tão corriqueiro que eu já morria de rir sozinha tentando resgatar o sapato perdido e sem muito sucesso porque, rindo, o negócio se tornava bem mais difícil.
E príncipe encantado nessa hora, benhê, não aparece nenhum, pode ter certeza.

Aí, eu fiquei um tanto receosa de perder meu sapato na saída do metrô e ele se estatelar lá embaixo e eu só poder resgatá-lo horas depois (isso aconteceu com a pasta da Andi e ela só pode resgatá-la horas depois, eu bem sei) e comecei a andar como uma pata, especialmente ao sair do vagão quando você deve tomar aquele cuidado básico com o vão entre o trem e a plataforma.
Sabem o "Mind the gap" dos trens de Londres?, no meu caso virou Mind the shoe!
Patético!

Eu sou mesmo uma lady, não?
Minha mãe sempre me diz isso e eu bem que acredito...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sobre um dia de fúria

Eu trabalho no Pátio do Colégio.
E bem aqui em frente tem um espaço reservado para o estacionamento de motos.
E aí que dia sim e o outro também o alarme dessas motos dispara.
E isso acontece inúmeras vezes por dia.
"Este veículo está sendo roubado e é monitorado pela CarSystem. Ligue 0800-772 72 71", manjam?

E aí, eu penso "obviamente esse veículo não está sendo roubado, porque, caso estivesse, o alarme não estaria berrando na minha orelha e me mandando ligar para a CarSystem. Não, eles passariam - moto e alarme - pelo meu prédio e iriam embora". Certo?
Pois é, ele tanto não está sendo roubado que essa joça de alarme fica aqui embaixo na minha janela berrando no meu ouvido enquanto a motoca está ali paradinha esperando voltar o motoboy, seu proprietário, que deve estar fazendo uma entrega pelas ruas do centro.

Então, ontem eu me enchi e liguei para a CarSystem.
Depois de ouvir as opções do menu eletrônico, digitei 5 para comunicar um roubo.
E comunico. O roubo de uma moto no Pátio do Colégio.

- Ok, senhora. A senhora poderia me informar a placa do veículo?
- Não, eu estou trabalhando no prédio e o alarme está soando lá fora. Aliás, meu caro, pensando bem, se esse alarme está soando a horas na minha orelha, talvez o veículo não esteja sendo roubado, né?
- Correto. Deve ter disparado o alarme sem que tenha havido o roubo do veículo.
- Correto. Então, como você vai fazer para essa joça parar?
- Então, eu preciso que a senhora me informe a placa do veículo para que eu contate o proprietário para que ele vá até o veículo e desligue o alarme.
- Ah, sim, você tá me zoando, né? Porque isso acontece várias vezes por dia. Então, você quer que cada vez que essa joça dispare eu pegue o elevador, desça 5 andares, chegue na rua, verifique a placa do veículo e volte para ligar para você para avisar que a bosta do alarme da moto placa XXX XXXX disparou na frente do prédio em que eu trabalho?!?! É isso?!?!
- É a única forma de contatarmos o proprietário, senhora.
- Ah, então talvez fosse o caso de eu deixar um funcionário à disposição para fazer isso porque esses alarmes disparam umas 10 vezes por dia.
- Senhora, sem a placa do veículo, não há nada que eu possa fazer.
- Ok, então porque você não manda um funcionário seu ficar aqui na frente do meu prédio, com um telefone na mão, verificando as placas das motos que têm os alarmes disparados e ligando para você, pode ser?
- Vou registrar sua sugestão senhora.
- Ah, vai? Muito obrigada.
- Sim, vou passá-la para minha supervisão.
- Ok, claro. Então vou ficar aqui na janela esperando o funcionário da CarSystem chegar e tentando não enlouquecer com esse maldito alarme...

E o João, o boy aqui, ficou indignado que eu descontei minha raiva em cima do sujeito que estava do outro lado da linha.
Ok, ele não tem nada a ver com isso, eu sei.
Mas alguém precisa ouvir, meudeus.
Porque eu fico ouvindo o cara da CarSystem gritar na minha orelha o dia inteiro. IN-TEI-RO.

Vocês acreditam que isso está acontecendo agora neste segundo?
Juro!

E é de enlouquecer.
E como é o inferno astral e tá tudo muito muito errado mesmo, eu descontei as raivas acumuladas no sujeito da CarSystem que não tem nada a ver com isso. Eu sei.

Foi mais ou menos um dia de fúria.