segunda-feira, 27 de julho de 2009

Sobre a vida

No mesmo dia em que minha avó comemorou seus 80 anos, a bisavó da Ester faleceu.
Essa é mesmo a dinâmica da vida. Dias para rir e para chorar.
E nos 80 anos da minha avó, ou nos quase 100 da bi da Ester, cabem mesmo muitos dias para rir e para chorar.
Minha opinião é que, no saldo, contar os dias de risos ou de lágrimas não é o mais importante, desde que se viva intensamente. Sempre.

Fiz um discurso no aniversário da minha avó, que quero deixar registrado aqui:

Aniversários são, por excelência, momentos de celebrar a vida. No entanto, imagino que a vida deva ser celebrada, não só no dia do aniversário, mas no dia a dia de todos os dias.
Vamos, então, tomar o aniversário como um momento privilegiado de celebração da vida porque podemos celebrá-la com família e amigos reunidos.
E este é o momento.
E são 80 aniversários já, não é vó?
De 1929 pra cá é mesmo muita vida.
Um bom momento para lembrar de outros momentos. E talvez meu papel no discurso fosse ajudá-la e ajudá-los a lembrar desse monte de história que tem de lá até aqui, mas, a verdade é que só uma parte dos 80 anos da minha avó cabem nos meus 27.
Pedi ajuda para algumas pessoas do que eu poderia falar nesta data. E no fim, eu descobri que só quem poderia falar, com propriedade, sobre esses 80 anos de vida era minha avó. Afinal, são 80 anos e neles cabem mesmo muita história.
Outros que poderiam falar são vocês, amigos da minha avó, que podem lembrar de outras tantas histórias.
E minha mãe e minhas tias, suas filhas, que nos seus 50 e poucos ou muitos anos têm guardado mais lembranças na memória.
Já para mim e para meu irmão, nos nossos 20 e poucos, ou 20 e muitos anos, ficamos nós dois um pouco com a sensação de que dividimos só um pouquinho das histórias da nossa avó. E que ainda temos um tantão para descobrir.
Acho que é um pouco a sensação dos netos. Avós são pessoas muito muito próximas que por distantes na idade representam todo um mundo que nós não vivemos, mas de que descendemos.
Assim, fico mesmo sem poder contar as histórias que poderiam fazê-los rir ou chorar ou só lembrar.
Na impossibilidade de relatar as memórias, vou dizer então que ter minha avó como avó sempre foi um grande privilégio. E não só pelos rocamboles de chocolates que ela sempre sempre fazia pra gente (pronto, Peu, falei do rocambole!) ou dos quindins que ela levava toda vez que nos visitava.
A história dos quindins eu preciso contar: uma vez eu confessei para minha vó que eu adorava quindim, mas que minha mãe nunca acertava o ponto do quindim lá em casa (culpa do forno, mãe, ok). E desde então ela me levou quindins todas as vezes em que ia me visitar – e, depois de um tempo, nem era mais os quindins que ela fazia. Ela passou a comprar os quindins na padaria ou no supermercado, mas mesmo assim, visita da minha avó virou sinônimo de quindim. Até o dia em que eu tive que dizer, ok vó, eu gosto de quindins mas não taaaanto assim. Nisso foram uns 5 anos de quindins!
E quindins e rocamboles à parte. E também lagarto com mussarela ou pão francês mergulhado no café com leite à parte... E todas as roupas que ela fez pra gente – dos meus conjuntinhos pra dançar lambada – ai que horror! – às calças xadrez que o Pedro usava e ainda usa e que minha avó nunca nunca vai entender por que raios o cavalo e a cintura não podem ser usados em seu devido lugar... A realidade é que as lembranças e memórias que posso dividir sobre minha avó fazem mesmo parte da vida de todo o dia. São a nossa forma de celebrar a vida no dia a dia de todo o dia.
Mas como eu já tinha dito que a tarefa de contar histórias do passado eu tinha deixado sob a responsabilidade de vocês, eu vou dizer algo diferente.
Vou falar sobre algo que aprendi com a minha avó e que faz parte de quem sou hoje porque faz parte também de quem é meu irmão e de quem são minha mãe e minhas tias.
Minha avó sempre respeitou a nossa liberdade. Em todos esses anos de convívio, ela nunca disse o que deveríamos ou não fazer e nunca externou qualquer julgamento sobre as nossas escolhas. Não que eu me lembre, pelo menos. E ainda que ela insista em sempre tomar o lado do meu irmão, né vó?, ela sempre respeitou e tem respeitado nossas decisões.
Acho que esse tanto de liberdade que ela nos passa traz um tanto de responsabilidade, sem dúvida, mas traz também o constante aprendizado de saber-se quem se é e crescer por conta disso. Isso eu vejo na minha avó. Eu aprendi com a minha família. E eu vou transmitir para os meus filhos (os filhos que ainda vou ter, um dia vou ter, faz parte dos meus planos, no meu ritmo, tá bom vó? Vós?). Enfim, faz parte do repertório da minha vida, das coisas importantes que valorizo e que fazem de mim quem sou e quem vou ser.
Se eu puder dizer algo sobre os 80 anos da minha avó, e já que fui incumbida mesmo desta tarefa, digo que a Dona Marília sempre soube respeitar cada pessoa pelo que ela é, ainda que o ser de cada um não seja bem assim o que ela vislumbraria. E um tanto disso eu levo da minha avó. Da bagagem de vida que a gente traz da família.
Talvez o que eu diga aqui nem faça sentido para muitos de vocês, mas como o discurso cabe a mim, posso abusar...
E era isso o que eu queria dizer.
Que levo em mim um tanto da minha avó. E que isso é um privilégio imenso.
E eu quero desejar à minha avó que toda a vida que vem pela frente seja recheada de momentos bons como este. E que ela possa celebrar a vida no dia a dia de todos os dias. E que a gente possa continuar fazendo parte dessa história e dessa vida. Sempre.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre nada

E então que eu chego em casa e percebo que tinha mesmo largado o computador ligado.
E não faz nem meia hora que saí do escritório e, portanto, da frente do computador, mas mesmo assim, checo emails - pessoal e do trabalho.
Um emailzinho pra resolver rápido e depois disso me permito um momento de paz que há muito não me permitia: vou navegar pelos mundos virtuais que acompanho e ler outras histórias de outras pessoas que também trabalham um tantãoassim como eu, mas que guardam um tempinho para escrever algo em seus blogs.
E cheia de coisas para fazer ainda e mais outras tantas para resolver, eu me permito ir para longe daqui, para outras partes, outros tempos, viajando na narrativa de quem escreve tão bem sobre as coisas que aí estão, descortinando outro mundo neste mesmo mundo tão conhecido e tão meu.
E, longe assim, eu fico com vontade de escrever. Não para contar nada específico. Não para narrar um episódio insano da minha vida muitoinsana.
Mas vontade de escrever só para reviver o blog e lembrar um pouco de porque eu quis tê-lo e deixar por escrito o tanto de coisa que eu queria narrar para deixar registrado ou só para me lembrar mesmo.
E aqui estou.
E já tenho que ir porque o miojo ficou pronto e a noite será beeem longa.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre família e psicanálise

Tem umas coisas na vida da gente que não dá mesmo pra explicar.
Ou pelo menos, não dá pra explicar sem recorrer a algo de místico, de surreal ou de psicanalítico.
Para mim, uma dessas coisas é o meu caso de amor com Pernambuco.
Eu não conheço Pernambuco, nunca estive lá (pelo menos, não nesta vida), mas eu amo Pernambuco de paixão.
Assim, de um jeito bem inexplicável mesmo.
E eu sempre programo de ir nas próximas férias e as coisas vão rolando e eu vou para outros lugares, mas nunca pra lá, conhecer in loco minha paixão virtual.
Ok, mas a história não tem nada a ver com isso.
Ou tem.

Porque eu amo Pernambuco, eu A-MEI! a montagem de Assombrações do Recife Velho que a cia Os Fofos encenam montou há tempos.
E agora eles estão em cartaz com Memória da Cana, que é uma adaptação livre de Álbum de Família do Nelson Rodrigues, com um jeitão de Casa-Grande e Senzala.
E eu fui ver no maior espírito vou amar de novo.
E não é que me surpreendi?
Saí da peça meio na dúvida, meio abalada, pensando um tanto. Enfim...
Nelson Rodrigues montado a la Gilberto Freyre não é de fácil digestão, admito.
Aí, comprei o programa da peça.
E passaram uns diazinhos de digestão.
E eu li o programa inteirinho.
E então que me surpreendi de novo.

Aconteceu: A-MEI a peça.
Depois da digestão, amei a peça.

E super recomendo!

Para quem for ver, tenho 2 dicas:
1) prepare o estômago
2) compre o programa para lê-lo depois

E para quem leu até aqui, deve estar se perguntando "o que raios o nome do post tem a ver com o texto?".
É que, no fim, das origens na casa-grande e na senzala aos grandes centros urbanos do século XXI, quando se trata de família, a avaliação é "ainda bem que existe a psicanálise".