segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sobre a agenda e as lembranças

Ao ler um amigo divagar sobre ter um cachorro, peixes, canários, ou plantas, olho para a orquídea aqui em cima da minha mesa.

"Quanto tempo será que passou desde que a reguei pela última vez???
Uma semana, duas, três?
Não, não faz tanto tempo. Mas será que faz sóóó uma semana?
Eu tenho viajado tanto que minha semana passa em dois minutos, então pode ser que já tenha se passado duas...
E agora? Eu rego ou não rego a orquídea???"

Porque tem todo um lance de regar uma vez por semana e só uma vez por semana, com meio copo d'água e só. Orquídeas não precisam de água.
Assim ele me disse. E eu anotei e me esforcei para lembrar sempre, sempre porque a orquídea é um presente cheio de significado.
E eu lembrei sempre sempre durante um tempo.

E agora? Agora eu já nem sei quanto tempo faz que não me lembro de regá-la.
Uma semana? Duas?

"Ah, se ele a visse, ele saberia se ela precisa de água. Só de olhar a cor das folhas, o jeito do caule, a terra...
Se ele a visse, ele decidiria.
Mas ele não vai vê-la.
E eu vou ter que decidir sozinha."

E estou me consumindo na dúvida sobre regar ou não regar a minha orquídea.
Por quê?
Se é só uma planta?...
O Mateus disse que morte de planta é sem apego e sem culpa.
Será???

É só uma planta, mas não vou lidar nada bem com o fato de tê-la matado.
Minha orquídea ainda é cheia de significado.
É, é só uma planta cheia de significado.
Apego. E culpa.

Então, eu não vou regá-la, para não correr o risco de encher de água e matá-la.
Ou melhor, eu vou botar, assim, só um pouquinho de água para garantir que ela fique um tantinho regada.
Porque orquídeas não precisam de muita água.
E vou anotar na agenda que hoje eu reguei a orquídea.
E que na próxima segunda, eu tenho que regá-la de novo.
Pronto, definido, segundas-feiras eu rego a orquídea.
Na agenda.

"Na agenda?
Não vai dar pra lembrar sozinha?
Antes, dava.
Hoje, não mais."

Com a agenda, vou garantir a vida da orquídea.
Já o significado...

sábado, 16 de maio de 2009

Sobre segurança pública

[só pra ninguém dizer que este blog não é sério...]

Semana passada, eu passei alguns dias trabalhando no Rio.
Na sexta, passei o dia no Complexo da Maré, um emaranhado de 14 favelas reunidas na zona sul do Rio, bem ali grudadinho na Avenida Brasil, com mais de 200 mil habitantes e cujo controle está dividido por 3 facções criminosas e mais uma milícia.
Quando saímos para andar pela Maré, caminhando pelas ruas estreitas, planas, numa lógica caótica que reúne um amontoado de lojas e barracas vendendo de tudo e casas empilhadas, sem pintura e sem beleza, me senti um tanto ameaçada.
Mas não foi pelo crime organizado que me senti ameaçada. Foi pela polícia.
Virando uma esquina, demos de cara com o Caveirão da PM do Rio.
Vocês já viram o Caveirão ao vivo?
É uma das coisas mais assustadoras que já vi na minha vida.
Sem brincadeira.

Imaginem um tanque de guerra. É assustador, não?
Agora imaginem esse tanque todo preto. Piorou, né?
E em vez de ser arredondado, o tanque tem formas retas. Não é aterrorizante?
E para completar ele ainda tem umas várias microjanelinhas com buracos embaixo por onde fica mirando o fuzil do policial que está ali dentro.
Parece aqueles carros de desenhos que se transformam em gigantescos robôs matadores, sabem?
Um completo horror.
Mesmo!



E avançado mais um pouco para dentro da Maré, a polícia civil está fazendo uma operação para caçar máquinas caça-níqueis. Policiais fechando a rua e o trânsito com vários carros atravessados e com enormes fuzis que eles levam pendurados no ombro tão displicentemente, como se fossem raquetes de tênis.

Não fiquei na Maré durante a noite, mas o que contam é que, quando anoitece, quem anda com fuzil pendurado no ombro não é mais a polícia, mas a molecada do crime.

Para mim, é muito óbvio que se isso é o modelo de repressão que estamos acostumados a ter, existe um erro absurdo na concepção de segurança que se tem. Isso porque tanques de guerra servem para inimigos. É coisa de exército em guerras internacionais.
Polícia, pelo contrário, deve proteger o cidadão e a cidadã.

Há anos, o Rio adota essa estratégia de repressão. E há anos já se percebeu que não funciona.

Ninguém aqui está defendendo o crime organizado ou sendo contra a polícia, mas é preciso entender que a forma de repressão corrente não é eficaz.
Estratégias eficazes de repressão ao crime passam por investigação e esclarecimento de crimes, sistema de justiça e sistema penal eficientes, confiança da população nas forças policias, enfim, tudo o que não está acontecendo hoje em dia.

Admitir que a violência é um dos mais graves problemas do país hoje e pensar uma nova segurança pública para dar conta desse problema é mais do que urgente.

Para quem tiver interesse de formular sobre isso, a hora é super adequada.
Isso porque estamos num processo de realização da primeira Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) no país. E todo mundo pode e deve participar.

A Conseg tem etapas municipais, estaduais, livres.
Eu estou envolvida com todas elas até o pescoço.

Então, fica o convite para quem quiser me acompanhar na empreitada:

Dia 28 de maio, quinta-feira, Conferência Livre de Segurança Pública na São Francisco. A partir das 9h00.

Dia 23 de maio, a partir das 8h00, mobilizações regionais na capital, nesses lugares:
Região Norte: Colégio Jardim São Paulo (Rua Leôncio de Magalhães, 382, Jardim São Paulo).
Região Sul: ESPM (Rua Doutor Álvaro Alvim, 123). Auditório Philip Kotler
Região Leste: UnicSul (Av. Dr. Ussiel Cirilo, 93 – São Miguel Paulista) Auditório Bloco D
Região Centro-Oeste: Universidade Mackenzie (Rua Piauí, 130, Consolação) Auditório da Escola Americana

Eu vou estar na Centro-Oeste.

A etapa municipal, propriamente dita, acontece dias 30 e 31 de maio, na FMU Liberdade.
Ainda não foram abertas as inscrições para acompanhar a etapa. Assim que abrir, eu aviso.

A etapa estadual (segunda quinzena de julho) é precedida de várias regionais em todo o estado. A metropolitana ainda não está marcada. Assim que tiver data, eu informo. Mas para quem está em outras cidades do estado, o calendário pode ser visto aqui: www.ssp.sp.gov.br/ConferenciaSP
É isso, para quem defende o processo democrático e participativo de formulação de políticas públicas, participar das etapas da Conseg é fundamental para ajudar a formular a segurança pública.
Mais informações sobre tudo da Conseg: http://www.conseg.gov.br/

domingo, 10 de maio de 2009

Sobre a distância n. 2

A vida tem dessas coisas.
Temos mesmo que aprender a lidar com a distância.


É assim.
O jeito que desenhamos nossas vidas vai nos levando pra um lado ou pra outro.
Algumas vezes para uns tantos quilômetros de distância de onde está uma parte importante de nós, nossos amigos.
Outras vezes, a distância nem é tanta, os quilômetros podem ser vencidos com uma hora e pouco e alguns reais que pagam a passagem de avião, mas a presença e a constância dos finais de semana ficam um tanto prejudicadas.

Esse último é o caso do Manu. Que foi embora pra Brasília no fim do ano passado e que faz uma falta danada no dia-a-dia da babilônia paulistana. E um vai sempre pra terra do outro e a gente não consegue casar as agendas para um encontro qualificado de jeito nenhum.

Já quem foi embora pra uma distância de mais horas e mais reais foi a Andi.
Hoje de manhã, ela embarcou mais uma vez para os Andes, pra encarar a neve da cordilheira e contribuir para o futuro econômico da América Latina e Caribe.

E eu, por aqui, na manhã de domingo aos prantos pela saudade que vou sentir.
Porque ontem eu passei o dia com ela e eu fui super forte. E enquanto ela chorava, eu dizia que sabia que ela estava fazendo a coisa certa, a melhor escolha, a decisão profissional que mais combina com ela e tudo isso e mais um monte de coisa que é a mais pura verdade mas que dói admitir.
Porque a coisa certa, a melhor escolha, a decisão profissional que mais combina com ela, a levam para muitos quilômetros de distância da minha casa. Justo agora que a gente morava do ladinho!

Mas o que me consola é que eu já fui embora uma vez e a Andi já foi outras duas e nossa amizade nunca ficou nem um pouquinho menor apesar da distância.
Aliás, a amizade só cresceu e cresceu.
E ela foi me visitar e viajar junto e eu fui visitá-la e viajar junto e eu voltei e ela voltou.
E no tempo passado longe, nós ficamos presentes na vida uma da outra por email ou por skype, dividindo as conquistas, os aprendizados, as viagens, as fotos e as pataquadas das confusões internacionais nas quais nos metemos invariavelmente.

E agora eu tenho que dizer que uma das pessoas mais queridas da minha vida mora lááááá em Santiago, no Chile.

Andi, te quiero un montón.


Pra iluminar o blog, só de textos, deixo um registro das andâncias pelo Chile, em março de 2008.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre a cereja do bolo

[Ontem o Fê tentava me convencer de que o inferno astral vai até o dia do aniversário "exclusive".
"Então, vai lá e conta isso pros astros, meu caro" foi a minha resposta.]

Ok, a fase infernal acabou, enfim.
Mas não sem um final em grande estilo para coroar o inferno astral.

É que no meu trabalho tem uma tradição de providenciar o bolo para a pessoa que faz aniversário.
E sempre tem toda aquele lance de manter o bolo em segredo para que o aniversariante não saiba que vai ter um bolo pra ele naquele dia e possa se surpreender ao ser convocado para uma reunião de última hora quando toda a equipe desapareceu e ao chegar na sala de reunião encontrar o bolo, com vela acesa, a Coca Cola e a equipe toda cantando "parabéns".
Obviamente que quase nunca funciona.

Ontem a minha surpresa já estava tão desmascarada que eu já tinha até escolhido que sabor de bolo eu queria e colaborado com a Carla na sugestão de onde comprar um bolo nas redondezas de nossa nova sede no centro.

Ok, achando que não teria mais possibilidade de surpresa, ontem eu me surpreendi! E como!

É que, descartada a mística, a Paula foi abrir a embalagem do bolo para cantarmos os tais "parabéns". E ela abre e fica surpresa. E a Maia olha e fica surpresa. E eu olho e também fico um taaaaanto surpresa!
O bolo de morango, daqueles com aquela coberturabrancabeeeemgorda e cheio de morangossuculentoscobertoscomaquelamelecacorderosa com um ar bem apetitoso, sabem?, veio sem um pedaço.
Sem um pedaço!!!
Um pedação inteiro daqueles bem triangular, cortado certinho, com cara de doceria, sabem?
Então, era esse o cenário desolador.

Isso deve ter uma explicação, claro. Foi o que todo mundo pensou.
E tinha, claro.
O boy - responsável por ir até a padoca providenciar a compra do bolo - tinha a explicação pro ocorrido.
A Carla mandou ele ir lá comprar um bolo de um quilo, mas, quando ele chegou na padoca, não tinha nenhum bolo de um quilo pronto. Todos os que estavam lá para serem levados na hora pesavam mais de um quilo. A solução encontrada? Tirar um pedaço do bolo para deixá-lo com um quilo, óbvio.
Simple like that! Não é???

E meu bolo de aniversário veio já cortado, sem aquele seu tradicional primeiro pedaço, com o qual as pessoas fazem seu pedido e entregam para uma pessoa especial, manjam???
Não é o ápice do inferno astral?!?!

Pois então que, se você foi ontem à Santa Teresa na Praça João Mendes e comeu uma fatia de bolo de morango daqueles com aquela coberturabrancabeeeemgorda e cheio de morangossuculentoscobertoscomaquelamelecacorderosa com um ar bem apetitoso, pode se sentir uma pessoa especial para mim, pois você está comendo o primeiro pedaço do meu bolo de aniversário.
E espero que a atendente da Sta. Teresa tenha aproveitado muito bem o meu pedido!

Humpf!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sobre diferenças culturais

[Na quinta, eu falei pra Renata que não tenho tempo nem pra fazer cocô. E ela riu e riu.
Não achou que fosse verdade...
Ok, achei o tempo de fazer cocô. Yes!
E com ele um mini-tempo para atualizar o blog]

Então que o inferno astral está enfim no fim (sim, sim, tenho fé).
E bailar la salsa foi o jeito de celebrar.

E, na salsa, a dulpa que mais fez sucesso de longe - assim, beeeeem de loooonge - foram as bailarinas Andica e Nanica. Elas!, as pequenas!
Dizem mesmo que as pequenas bailam melhor...

E histórias não faltam, podem apostar.
Mas na impossibilidade de narrar todas, vou ficar com uma da Andi.

Ela baila com o peruano. E o diálogo se dá todo em español.
Así:
...
- Yo soy de Perú (com sotaque de peruano)
- Ah, ¿sí?, ¿de Lima? (com sotaque argentino, ou melhor porteño)
- Sí, de Lima. Que barbaro (vixe, isso seria muito porteño, ok, ele não deve ter dito isso desse modo, mas foi nesse sentido...) que sabes cual es la capital de Perú. Y ¿que más tu sabes sobre Perú?
- Sé que en Perú hay más de mil tipos de papas...(ok, Andi, temos que admitir que isso foi estranho. Quem tem essa informação???)
- Síííí, más de mil tipos de papas y, de todas, tu eres la más linda...
- ¿¿¿...???

Alguém achou que isso era uma cantada?!?!?
Alguém, em sã consciência, canta uma mina chamando-a de batata?!?!?!?!

Só se for no Peru!

[E este post poderia se chamar "Sobre el dia en que la niña de Venezuela se transformó en papa". Depois a Andi explica.]

Ah, as diferenças culturais...