terça-feira, 3 de julho de 2012

Sobre casais e ursos

No mês passado, tiramos umas mini-férias e fizemos uma viagem pela Gaspésie, que é uma península aqui no Quebec, que fica entre o Rio Saint Laurent (ou Saint Lawrence, em inglês) e o Atlântico. Os 10 dias foram as mini-férias que conseguimos tirar, no meu caso somando dias de recuperação pelas viagens em que tenho que passar o fim de semana fora e dias de doença (valeu, direitos trabalhistas canadenses!!!). A viagem foi incrível.
E teve alguns highlights. Vou contar do urso. 

Gente, vimos um urso! Um não. Vimos dois ursos!!! Não juntos. Um de cada vez. Eu só vi um, na verdade, mas meu pai e Guiba viram os doizinhos. Mas olha que coisa! Vimos os ursos e não saímos correndo de medo e até achamos o máximo. Mais ou menos. 

Foi assim ó:
Antes de partirmos, pegamos mil informações sobre a região, né? Uma amiga, que já fez parte dessa viagem, contou para a gente sobre o folheto que ela pegou em um dos parques que explicava sobre o que fazer no caso de você dar de cara com um urso. 
Basicamente, a sobrevivência se garante em alguns passos: 1) se você viu o urso, mas ele não te viu, você sai andando de costas, olhando para ele – para monitorá-lo – devagar e sem barulho; 2) se você viu o urso e ele te viu, você pode se fingir de morto e torcer pro urso acreditar que você está mortinho da silva; agora 3) se você viu o urso, ele te viu, nada disso funcionou e ele te atacar, fingir de morto não resolve, você tem que atacar o urso de volta (ou seja lutar com o urso, entenderam, né?). 
Mas aí que nós chegamos ao parque, perguntamos sobre o urso e o guia que nos atendeu disse que era muito difícil a gente dar de cara com um urso, porque os ursos morrem de medo da gente e, como eles têm uma alimentação que é 95% vegetariana, ainda que víssemos o urso, era mais provável ele correr da gente do que nos atacar. Além disso, estando em quatro pessoas, o urso ouviria nosso barulhos e se mandaria, antes que pudéssemos vê-lo. E ele ainda mostrou as florzinhas amarelas que são a base da alimentação do urso preto (que é o urso local) para comprovar a alimentação vegetariana do bicho, sacou?
Ok, muito bem informados, entramos na trilha. E lá na trilha tinha um sem número de florzinhas amarelas, mas nós nem estávamos lembrados da existência do urso. Até que quando estávamos chegando ao fim de uma parte da trilha, o meu pai e o Guiba acharam que tinha gente no meio da mata (o que é total proibido por aqui, você só pode andar na trilha) e ao analisar que a tal gente andava agachada, concluíram com sapiência de que se tratava de um urso. 
O urso se foi, mas aí, nós quatro piramos para achar o urso. Ficamos no maior silêncio possível fazendo o resto da trilha para não espantar qualquer urso que por ventura estivesse por ali, e na maior atenção olhando para dentro da mata, procurando ursos. Mas não vimos mais nada. 
Até que chegamos a um pedaço da trilha em que meus pais desistiram de continuar. Eram mais 2,5km e eu e Guiba fomos sozinhos. Nova trilha, mata bem fechada, eu e Guiba. E nós procurando o urso. 
Até que meu marido, num lampejo de sanidade, repara “Marina, a gente é louco de estar procurando um urso! Tipo, estamos nós dois, no meio dessa mata fechada, sozinhos, se um urso aparecer, fod...”. Percebem??? 
Sa-ni-da-de.
E então, seguimos os quilômetros restantes fazendo barulho, pisando forte, cantando e assobiando, just in case, né...


Tão entendendo o espírito??

O segundo urso nós vimos da estrada, quando estávamos devidamente protegidos em nosso carro. Sem glamour nenhum, tipo simba safári. 
Não tão legal, né?, mas aqui estou para contar a história!