Na realidade, 20 de novembro de 2013.
Revivendo o blog num momento de espera. E revivendo arquivos, fotos e outros momentos. Enquanto espero, espero e espero.
Revivendo o blog num momento de espera. E revivendo arquivos, fotos e outros momentos. Enquanto espero, espero e espero.
E como o momento é de espera, mas de chegadas, quis deixar registrada aqui a cartinha que escrevi para a Teodora, filha da minha muito-muito-muito querida amiga Ester, quando ela nasceu em julho deste ano.
Montreal,
16 de julho de 2013
Teodora, minha querida,
Seja muito bem vinda a este mundo!!!
Em primeiro lugar, deixa eu me apresentar, eu
sou a Marina. Você pode me chamar de tia Marina, apesar de eu saber que você já
tem uma tia oficial chamada Marina.
Assim sendo, você pode me chamar de tia
Marinóvski (como sua mamis me chama), de tia MM, de tia Marinão ou do que você
quiser. Com o tempo, a gente se ajusta nos nomes, no worries.
Eu, por minha parte, decidi te chamar de
Dorinha. Escolhi Dorinha porque acho que seus pais não vão gostar muito do
apelido e eu achei por bem ser uma tia pentelha para dar uma subvertida nas
coisas. Mas, veja só, se você não gostar de Dorinha, eu posso reconsiderar o
apelido. Digo que posso porque, como tia pentelha como já me assumi, pode ser
que eu te chame de Dorinha na frente dos seus amigos quando você for uma
adolescente, di modi a te fazer
passar vergonha. Percebe?
Assim são as tias pentelhas...
Bom, estou escrevendo primeiro para me
apresentar.
Eu sou amiga de sua mãe desde os idos anos
2002. Na verdade, eu conheço sua mamis desde 2002, mas não sei bem dizer quando
foi que viramos BFF (best friends forever – tô explicando pra você e pra sua
mamis, que sempre reclama das minhas expressões em outras línguas). Pois é, não
sei dizer quando foi que viramos assim muito amigas. Mas viramos. E hoje somos
muito-muito-muito amigas (essa também é para sua mamis, ou melhor, em homenagem
à ela, que adora muito-muito-muito uma repetição).
Enfim, mas o fato é que eu e a sua mamis somos
muito amigas. Do tipo que já vivemos um montão de coisas juntas. Nós nos
conhecemos na faculdade, na SanFran (SãoFran, segundo sua mamis. Ó, isso vai
ficando claro aos poucos na sua vida, tá? Não precisa se preocupar em aprender
tudo agora...), aliás, acho que foi lá que sua mamis e seu papis se conheceram
também. Bom, eu e sua mamis nos conhecemos na faculdade, fizemos política
juntas no Grupo Ruptura (depois ela te conta mais) e assim fomos ficando amigas.
Fizemos mil programas juntas. Viajamos juntas para vários lugares também, como
para Buenos Aires, para Porto Alegre no Fórum Social Mundial, para Caraíva numa
virada de ano, para o Rio em muitos carnavais, para vários congressos internos
em Salto (na casa do tio Bruno, que você deve conhecer logo) e em outros
interiores, para vivências, e sei lá mais quantas coisas que inventávamos. Eu
também já fui visitar sua mamis em Munique, quando ela morava por lá e eu
morava em Paris (muito phyna eu, eu sei), apesar de ela não ter ido me visitar
em Paris, o que é quase imperdoável. Nós já rimos muito juntas e choramos
juntas algumas vezes também. Já passamos uns enroscos e já resolvemos todos os problemas
da humanidade e mais os problemas das nossas vidas em incontáveis mesas de bar.
Nós já até moramos juntas, para você ter uma ideia. E sobrevivemos a isso! Considerando
que somos pessoas bem diferentes no jeito de organizar uma casa, como você vai
descobrindo, devo dizer que nós nos saímos muito bem na empreitada (e seu papis
deve me agradecer todos os dias por ter contribuído com a treinamento de uma
Ester mais organizada – hehe!).
Entonces, tudo isso para te contar quem sou eu
na sua vida. Na real, estou te contando quem sou eu na vida da sua mamis, né?
Mas do tanto que sou amiga da sua mamis, acho que a gente também pode ser
amiga, né não??? Acho que essas já são boas credenciais para você me considerar
uma pessoa de bem, diz aí?
De
qualquer forma, eu juntei aqui umas fotinhos minhas e da sua mamis juntas em
diferentes momentos dessa vida para você ver do que estou falando. Ah! E para
você me reconhecer também, quando a gente se conhecer pessoalmente, né?
E, ó, repara que na última fotito você tá
também! Tá dentro da barriga da sua mamis (como você chegou lá, sua mamis e
papis vão se encarregar de te explicar um dia, belê?). Mas você tá lá! E eu tô
te mandando um beijinho, viu só?
Bom, voltando, eu não estou por aí acompanhando
de pertinho fisicamente o seu nascimento porque estou morando em Montreal, no
Canadá. Montreal fica no Norte do mundo, mais precisamente na América do Norte.
Tipo isso, só que ao contrário, ó:
Então, eu moro aqui desde 2012, pois vim
trabalhar nas bandas de cá. Longa história sobre como vim parar aqui – um dia te
conto – mas é por isso que não estou aí agora. E se a vida por aqui não tivesse
dado toda uma embolada (boa!, já volto a isso), seguramente eu teria ido fazer
uma visita para acompanhar a sua chegada nas bandas daí.
Mas voltando ao mundo do trabalho, eu estou aqui
porque trabalho com prevenção da violência. Mais tarde você vai entender do que
se trata. Por ora, basta dizer que estou aqui tentando mudar um pouquinho o
mundo. Porque sabe Dorinha, esse mundo em que você chega agora tá precisando de
uma chacoalhada, viu?
Acho que estamos bem no processo de
transformá-lo, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Especialmente para
as mulheres, Dorinha. Você vai se ligar um dia de como a história da humanidade
é uma história dos homens. As mulheres só começaram a participar ativamente de
forma substantiva dessa história no século XX, acredita??
Esse é um tema super complexo, não vou te
explicar agora, mas você pode ter aí em conta de que você está nascendo num
mundo muito diferente para as mulheres do que quando as suas bisavós nasceram
(ainda bem!!!). E essa transformação ainda está em processo...
De qualquer forma, existem pessoas que estão
por aqui já batalhando para deixar um mundo muito mais bacana para você viver.
Eu estou tentando fazer minha microparte nessa história. Sua mamis também faz o
mesmo por aí. O seu papis e o seu tio Guiba (meu marido, que você também vai
conhecer pessoalmente logo menos), também estão nessa luta. E mais um montão de
amigos nossos e outras tantas pessoas que nem sabemos quem são em todos os
cantos do mundo.
Dorinha, não é difícil ser uma pessoa que quer
mudar o mundo e trabalhar para isso, sabia? Começar se indignando com as injustiças
que existem por aí é o primeiro passo. E depois, é só você pensar em como você
pode fazer a sua parte para tornar o mundo mais bacana e justo para todo mundo.
Nós estamos nessa luta e eu tenho certeza que
você se juntará a nós. Eu sei, eu sei, parece grandes expectativas, né? Mas,
olha, nascendo aí na sua família, eu tenho todos os motivos do mundo para ter
altas expectativas.
Agora, veja, não se sinta pressionada, tá bom?
Eu acho que ser uma pessoa que quer fazer do mundo um lugar mais bacana é o
caminho natural. Ninguém está esperando demais de você, nem estamos apostando
as nossas fichas em você porque somos frustrados com as nossas escolhas. Nada
disso!
Só estamos todos confiantes (aqui estou
incluindo seus pais, o resto da família e mais a família ampliada que são os
amigos do coração – você vai entender um dia) de que com a educação que você
terá aí na sua casa, com os seus pais, você naturalmente será uma pessoa bacana
querendo deixar o mundo um lugar melhor para todas as pessoas.
E, Dorinha, pode se considerar uma pessoa
privilegiada por ter nascido nessa sua família aí. Seus pais são pessoas
incríveis que vão te apresentar o mundo de um jeito todo especial...
Eles vão errar, seguramente, acho que esse é o
normal. Mas eles vão acertar mais do que errar no longo prazo, pode confiar
nisso.
E quando você estiver de saco cheio dos seus
pais, você pode correr para os seus tios – tipo para a sua tia aqui. Porque os
tios, em geral, tendem a te defender dos seus pais, mesmo que, no fundo, eles
concordem mais com os seus pais. É uma coisa de solidariedade familiar e de
birra entre adultos, sei lá, tô divagando aqui, mas acho que você pode confiar
nessa minha intuição.
Assim, se você quiser apoio para as suas crises
existencias adolescentes mal compreendidas pelos seus pais, por exemplo, pode
vir, que estarei de braços abertos. Se você quiser que alguém te ensine a criar
um perfil no facebook ou a mexer no seu celular novo, também pode me procurar
(se é que eu vou ser assim tão atualizada quando você tiver idade para essas
coisas, hehe). Mas sério, podemos pensar em várias situações em que você pode
me procurar para te apoiar.
Agora, veja só, se for para pedir princesa da
Disney de aniversário ou se quiser um adulto responsável para te levar no show
da boy band do momento, minha amiga,
melhor você contar com outros tios, tá bem? Que
essas aí eu vou estar passando, meu bem.
Até porque, Dorinha, não te contei isso ainda,
mas eu também serei mamis em breve, se tudo seguir bem. Estou por aqui
fabricando na minha barriga dois amiguinhos para você. E, olha que bacana!,
Dorinha, você será mais velha do que os meus filhos (eu ainda não sei se eles
serão meninos ou meninas ou um menino e uma menina, tá?) e vai poder ensinar
para eles muita coisa do alto da sabedoria que os seus seis meses de vida a
mais lhe concedem.
Espero que você e meus filhos sejam amigos
assim como eu sou amigona da sua mamis. Diz aí se não ia ser legal?
Vai ser legal também para a sua mamis se
solidarizar com os meus filhos contra mim, assim como eu me solidarizarei com
você contra ela, veja só!
Enfim, Dorinha, essa cartinha é só para começar
essa nossa história juntas. Espero que muitas e muitas cartinhas ainda venham
por aí. Eu vou a-do-rar receber uma cartinha sua quando você já souber escrever
sozinha. Pensa só que bacana vai ser?
E pensa só que quando a gente for bem mais
velha a gente vai ter um monte de cartinha para contar a nossa história? Que
nem os seus pais têm um monte de emails para contar a história deles. E eu e
sua mamis também temos também um monte de emails que contam a nossa história.
Ah! E a cartinha é também um registro desse dia
em que você nasceu, porque estou aqui terminando essa cartinha no dia 16 de
julho de 2013, exatamente no dia em que você nasceu.
Quem me contou que você nasceu foi a sua tia
Quel. E me contou quase real time,
porque eu pedi para ser assim. Apesar de estar longe, eu queria estar pertinho.
E a tia Quel me deixou bem pertinho desse momento todo especial. Já vi algumas
tantas fotinhos suas, que já estou até me sentindo íntima!
E também falei com a sua mamis logo cedinho
para saber como foi a sua chegada. Falamos rapidinho, mas depois ela me conta
tudo com calma, quando ela tiver mais tempo e quando ela também tiver
processado tudo o que ela andou vivendo.
Para registrar esse dia, estou te mandando dois
exemplares do dia de hoje de jornais que circulam por aqui em Montreal. São os
jornais de distribuição gratuita que temos aqui, para você saber o que estava
acontecendo no mundo – ou o que era notícia do que acontecia no mundo em
Montreal no Canadá – no dia em que você nasceu. No 24h, tem até um horóscopo
que fala sobre a personalidade de quem nasceu no dia de hoje. Olha lá. Tá em
francês, mas pede pros seus pais traduzirem para você. Eu acho tudo isso uma
baboseira – essa coisa mística, horóscopo, sei lá –, mas vai que você se
identifica, né?
E, olha, vou admitir, uma cartinha decente
merecia ser escrita à mão, eu sei disso. E você pode até ficar indignada com
essa cartinha aqui. Mas me explico. É o seguinte, minha amiga, meu jeito de
organizar o texto é todo caótico, de modo que vou editando tudo ao longo do que
escrevo, começo pelo fim, volto pro começo, escrevo o meio e mudo tudinho de
lugar de novo e várias vezes... Fora que vou escrevendo na cabeça, antes de
botar no papel e vou escrevendo ao longo de dias e dias – essa cartinha começou
há mais de mês, para você ter ideia. Assim sendo, eu resolvi escrever tudo isso
no computador para depois passar a limpo. E você se adiantou e nasceu muito
cedo e não deu tempo de passar a limpo...
Mentira! Mentira deslavada!!! Esse finalzinho é
mentira. Você não está nada adiantada, flor. A verdade é que desde que saí da
faculdade, eu não escrevo longos textos à mão e, veja só, minha mão não está
mais acostumada a tamanho esforço e ela doía somente de imaginar que eu fosse
passar tudo o que tá aqui a limpo. Tá ligada? Entonces, daí, que eu decidi que
a cartinha ia ficar mesmo toda bonitinha ainda que fosse toda digitada, porque foi
escrita com muito amor. Mas para melhorar a situação e deixar tudo mais pessoal,
eu enchi a sua cartinha de Mafalda, porque tenho certeza que você vai gostar da
Mafalda tanto quanto eu e seus pais gostamos, quando você for grande para
entendê-la. Percebe? E aí, ficou bonitinha, vai? Acho que posso ser perdoada
pela carta digitada, néééé?
Enfim, minha querida, escrevo para
desejar as melhores boas vindas nesse mundo e para te contar que você foi toda
muito querida e desejada por todo mundo que tá aí/aqui por perto. Que bom que
você chegou!
E quero desejar também que sua vida seja muito
cheia de vida por aí. E que ela seja toda repleta do seu bem viver, que você
vai descobrindo e construindo ao longo do seu caminho.
Dorinha, te mando todo o meu carinho e um
cheiro. Nos vemos em breve!
Com amor,
Marina