sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre encontros e desencontros

A Dri, que não é Berenice, me mandou esse texto.
A história aconteceu com ela. Ou melhor, parte da história aconteceu com ela. E daí, ela escreveu o conto.
Ela achou a história a cara do meu blog. Eu acho o meu blog um pouco cara de crônicas da vida cotidiana mesmo...
Mas, no meu caso, não crio contos.  As histórias que eu publiquei até hoje são fatos reais. Tragicomicamente reais.

Aqui vai o conto da Dri:


Encontros e desencontros

Dizem que a vida é feita de acasos. E foi num desses acasos que Ferreira reencontrou Berenice. Por alguma razão, eles tinham se perdido nessa vida. Mas quis então o destino que, sem nenhum propósito previamente estabelecido, eles se reencontrassem. O encontro se deu no fim de uma sexta-feira, lá no Largo Treze de Maio, no bairro de Santo Amaro, onde pelo menos um milhão de pessoas circulam por dia.

Aquela morena linda, de andar requebrado... Como um macho atraído por uma fêmea no cio, Ferreira avistou sua presa. Ao olhar novamente, para a cadência da morena, ele reconheceu Berenice. Já se passara muito tempo desde a última vez. Os cabelos diferentes, mas o mesmo gingar. Ele a seguiu e tocou no seu braço: - Berê, é você?!

Ela, em um primeiro momento, tentou se proteger, mas logo reconheceu o amigo. Um pouco mais barrigudo, claro, pois o tempo é implacável com todos, ou pelo menos com quase todos. Berenice, como um bom vinho, tinha ficado ainda mais bonita.

Ao reconhecer Ferreira, abriu um largo sorriso que o hipnotizou. Como num filme, vinham imagens em sua cabeça e ele se penitenciava por tê-la deixado sumir... - Como pude ser tão idiota, se perguntava, enquanto ela lhe contava sobre sua vida, e tudo o que aconteceu com ela nesses anos todos.

Ferreira resolveu então convidá-la para beber algo, por ali mesmo. Um chopinho para celebrar o reencontro. Ela, muito educadamente, declinou do convite. Mas, muito tranqüila disse a ele: anota aí meu telefone. Ferreira tentou uma vez mais, porém Berenice não se rendeu. E, com certa impaciência, lhe perguntou: vai ou não anotar?

Ele, embasbacado, resolveu então anotar. Pegou seu celular e começou a apertar os números que ela lhe ditava. Os dois se despediram e partiram para lados opostos. Ferreira foi para a parada de seu ônibus, não sem antes atropelar alguns transeuntes, pois andava olhando mais para trás do que para frente. Berenice seguiu seu rumo, determinada, confiante e até mais rebolante, sumindo na multidão.

Ferreira entrou então no ônibus. Estava tão inebriado com a situação que nem percebera o temporal que caía. As gotas escorrendo na janela do ônibus transformavam-se em imagens de Berenice. O cara caiu de paixão ou, como dizem, arriou dos quatro pneus.

Saiu do ônibus e nem se importou com a chuva, que, apesar de fria, não era suficiente para apagar aquele fogo que o consumia. Ao chegar em casa, tirou a roupa molhada e continuou pensando em Berenice. Dormiu no sofá, sem se dar conta... Sonhou a noite inteira com ela. No dia seguinte, acordou com dores no corpo. Estava gripado.

Resolveu então que não poderia propor nada para ela naquele final de semana, pois estava realmente incapacitado. Passou o final de semana cuidando do corpo, porque sua alma estava mais saudável do que nunca.

Na segunda-feira, logo pela manhã, resolveu mandar-lhe um torpedinho: “bom dia morena linda, como foi seu final de semana, o meu foi péssimo, estou com gripe, to com saudade, kero fazer amor com vc. bjs”.

Do outro lado, a resposta: “oi, você me mandou um SMS por engano”. Ao receber a resposta, que demorara algumas horas, ele pensou: - a morena continua linha dura... está fazendo doce.

E, mais animado ainda pelo possível jogo de sedução que começava a rolar, mandou outro: “boa tarde minha morena linda, não tem nada por engano, saudades, kero fzr amor com vc. bjs ferreira”.

Deste segundo torpedo, não recebeu nenhuma resposta. Como a primeira resposta demorou muito a chegar, resolveu então ser mais incisivo e partir direto para o ataque. Ferreira gostava de um charme, mas nem tanto. Decidiu telefonar:

- Oi morena linda. Tudo bem?

- Oi, aqui não é a sua morena.

- Ah, Berê, para com isso...

- Não sou quem você está pensando.

- Todos nós mudamos.

- Não, estou falando sério. Já até te mandei um torpedo para avisar.

- Mas... quem tá falando então?

- Não importa, não sou a Berê.

- Pô, é sério? (silêncio).

O tom de voz muda. E ele continua:

- Meu Deus, é sério... cê até mandou um torpedo pra me avisar, mas eu não acreditei...

- É, tentei...

- Achei que você, quer dizer, a Berê, estivesse fazendo doce.

- Desculpa te decepcionar.

- Pô, fazia um tempão que a gente não se via... eu mandei o torpedo... ai, o torpedo...

Sua voz era um misto de decepção, por ter anotado errado o número, e de vergonha, por ter sido tão direto. Imaginou mil cenas. Insistia em saber o nome da interlocutora. Pediu desculpas mais uma vez e, resignado, desligou o telefone.

Se o final de semana tinha sido péssimo, o começo da semana seria de matar... O que era sorte transformou-se em azar.


[E essa história da Dri me lembrou uma história que já publiquei aqui. Aconteceu com a Ester, em outros carnavais.]

 

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