quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sobre os taxistas e os assuntos

Eu pego muito táxi. Indo e voltando de aeroportos, eu sou usuária de táxis em São Paulo, no Rio e em Brasília.

E eu fico fazendo minhas análises sobre os taxistas.
Por exemplo, taxistas em geral adoram falar sobre o “ser taxista”. Podem verificar, é só puxar esse tema, que eles contam por horas todas as peripécias da profissão.

E tem os temas específicos de cada lugar:
Os taxistas do Rio adoram conversar. A-do-ram. Sobre todo e qualquer assunto, mas especialmente sobre o Rio. Maior orgulho que os caras têm da sua cidade.
Os taxistas de Brasília também adoram falar de Brasília, mas é em outro contexto, ressaltando como Brasília é diferente de outros lugares. Os taxistas de Bsb não nasceram lá, em geral, então o papo sempre começa com o quando eles chegaram lá. Eles também são bem curiosos sobre São Paulo e fazem mil perguntas, se você deixar.
Os taxistas da terra da garoa, por sua vez, gostam de falar do trânsito. Ê, assuntinho... Mas, em compensação, se você tem que tomar um táxi e não tem vontade de conversar, o melhor lugar para se fazer isso é mesmo em São Paulo. Aqui, os taxistas, em geral, não puxam papo e respeitam solenemente o seu silêncio.
Mas observem: em geral. Sempre tem uma ou outra exceção, como a que eu conto agora.



Semana passada, voltando de Brasília, tomo o táxi em Congonhas. Depois de horas de aeroporto fechado por conta da chuva, chego em Sampa às dez da noite. Feliz, porque nesse horário não há mais trânsito, mas imensamente cansada por conta das horas de atraso. Nesse contexto, conversar com o taxista não estava nos meus planos.
Mas ele queria conversar. E como!
E ele inventou vários assuntos na tentativa de dialogar comigo.
E ele conseguiu errar em absolutamente todos os assuntos que ele tirou da cartola. To-dos.
E para vocês que me conhecem, podem ir imaginando a minha cara para cada pérola do taxista.

Vão vendo:

Eu entro no carro e ele fala que tinha acabo de ficar 4 horas no trânsito indo e voltando de Alphaville. (1º assunto errado: eu odeio falar de trânsito). E segue com o ainda bem que ele tem um aparelho de DVD em seu carro – e abre a engenhoca que se destaca no painel do carro (2º assunto errado: me impressiono zero com o aparelho). E nesse tempo todo de trânsito, ele conta que viu um filme quase inteiro, tirando a capinha do filme do porta-luvas, um sucesso policial super famoso que, obviamente, eu não conhecia (3º assunto errado: eu não vejo filmes policiais).

Sem sucesso na primeira empreitada.

“De onde você está vindo?”. “De Brasília.” “Puts, mas não é política, não, né?” (4º assunto errado: falar mal de política).
Sem resposta minha, ele “porque esse povo da política é foda. Você viu a Soninha?” “O que tem a Soninha?”. Indignado: “Ela é a favor da legalização das drogas!” (5º assunto errado: eu sou a favor da legalização das drogas).
E altas divagações dele sobre as drogas e narra uma trágica história familiar (6º assunto errado: lições de moral).
Um ou outro comentário meu sobre a necessidade de legalizar as drogas uma vez que as políticas repressivas não dão conta do problema, mas ele não estava ouvindo, obviamente.
“As pessoas usam drogas para fugir de seus problemas, em vez de resolver. É só fugir. Tipo ir no psicólogo... Você não é psicóloga, não, né?". Silêncio da minha parte. "Eu acho um absurdo ir no psicólogo para falar de seus problemas. Como um estranho vai saber resolver seus problemas melhor do que você?!?!” (7º assunto errado: falar mal de psicologia).


[vocês estão imaginando a minha cara???]


Um comentário meu sobre o método na psicologia. Sem efeito. Ele: “É tipo o que dizia um professor que eu tinha na escola. Um bichooooola, mas ele era legal. (8º assunto errado: homofobia).
O professor dizia algo sobre tomar calmantes para dormir em vez de resolver os problemas, mas, aí, eu já não estava mais ouvindo. Eu só estava pensando que quando chegasse em casa, precisava registrar esse diálogo...
E pensando que só faltava algo do tipo pena de morte para eu dar um grito.
E quando eu parei de interagir, ele “Moça, desculpa, eu estou falando muito, não é?”. “Não, moço, sem problemas” e, graçasadeus!, já estávamos do lado de casa.
Para terminar, ele abre a agenda e me mostra a foto da esposa e das duas filhinhas. “Lindas, né?” (9º assunto errado: mostrar fotos de família para estranhos).
“Lindas, moço, parabéns pela bela família” e saio do carro pensando em anotar modelo e placa para não correr o risco de pegá-lo outra vez.

[essa história do taxista me lembrou outro dia em um táxi em Bsb. Era o primeiro dia da moça motorista do táxi. Primeiro dia como taxista. Mas parecia também que era o primeiro dia dela em Brasília. E talvez o primeiro dia dirigindo um carro. Um terror! Estávamos em 5 no táxi. E o Zé Marcelo, que estava na frente, foi o responsável por indicar o caminho e - mais importante - acalmar a moça. Eu me acabei de tanto rir. E me acabei no maior esforço para rir por dentro. Pra não piorar ainda mais.]

[eu ando sem escrever aqui por total falta de tempo. Total.]

5 comentários:

  1. Ma

    Nós já conversamos sobre os taxistas e seus assuntos e as maluquices das pessoas acharem que podem soltar por aí, sem pudores, seus conservadorismos mais escrotos.
    Amei a forma como você colocou essa minha aflição com a humanidade num texto.
    Vou salvar o texto e levar mil cópias sempre comigo. Assim quando alguém ameaçar um assunto assim eu só dou o texto para ela ler e sorrio serenamente!

    Beijão!
    Isa

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  2. Ma, rachei de rir lembrando da taxista mais prego do planeta. Coitada, ela tava muito nervosa... sei que deviamos ter nos controlado na risada, mas foi impossível. Meus deus, como sobrevivemos dessa?
    bjs mil Carol Ricardo

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  3. má,
    lembrei tb daquele táxi que pegamos no Rio durante o carnaval. E pulamos antes do destino, porque tava difícil ouvir o besterol....
    bjs
    bruno

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  4. Oi Marina,

    Nossa taxista estreante em Brasília foi mesmo sensacional. Mas na minha experiência ainda perde para a melhor história com táxis cariocas, indo conhecer o Bip-Bip, micro-bar tradicional de roda de samba em Copacabana. O taxista também não conhecia o Bip-Bip, mas era sambista, compositor de sambas-enredo (estava disputando o concurso para o samba da Caprichosos de Pilares naquele ano), e ao ver o bar (que é de fato cativante) se animou para estacionar o táxi, sacar um pandeiro do porta-malas e juntar-se à roda. Terminamos rachando uma cerveja.

    Se bem que nesse quesito, acho que não tem como ninguém bater esse figura aqui: www.overmundo.com.br/overblog/som-na-pista-da-rua-ou-de-danca-1.

    bjs

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  5. Querida... é bom te ler tb.Encta distâncias, mas não substitui. Aguardo tua nova crônica sobre as luzes de Natal! Como tudo que escreves, vai encontrar a graça ou a poesia do meio da mesmice... um beijão!

    PS: Taxistas são persongens MÁRA! hahaha...

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