Pois sim, faz um tempãozão que não consigo parar e escrever algo aqui.
Uma pena. Adoraria ser mais assídua com o blog. Mesmo. Mas acabo por não
priorizá-lo. Escrevo mil textos na cabeça e nunca paro para escrevê-los de
verdade e publicá-los.
Mas sei que tenho leitores (porque acompanho as estatísticas do brogui),
o que é ainda mais surreal. Tipo essa minha amiga louca controladora querida e
atenta, a Isabela, que sempre passa aqui para ver o nada que atualizei e me
manda um esculacho falando sobre o quanto eu não sei ter um blog recadinho delicado
sobre como ela sente falta dos meus textos.
Ok, parênteses feito, vamos lá. Esse texto tá velho, mas tá novo. Vocês
já verão porquê.
Então que o Quebec tem esse lance de dia da mudança. Vou explicar. Dia primeiro
de julho é o dia da mudança no Quebec. Isso porque a
graaande maioria dos contratos de aluguel aqui são de um ano e vão de 01 de julho
de um ano a 30 de junho do ano seguinte. Não por coincidência, primeiro de
julho é feriado nacional, ou o dia do Canadá. Acham que o Quebec
escolheu esse dia para ser o dia da mudança por quê?
Boicote, óbvio. Tem coisa que mais impossibilita uma festa ou comemoração
qualquer do que o dia em que você vai fazer uma mudança?!?! Tem não, né?
Pois sim. Então, com esse lance dos contratos anuais, todo mundo tem
que avisar o landlord se vai mudar ou não com algum prazo de antecedência, o
que ocorre geralmente em março.
Assim, tal qual fomos informados, março era o momento ideal para acharmos
o nosso novo lar. E lá fomos nós, Guiba e eu, muito dedicados, nos enfiarmos de
cabeça na busca pelo lar prometido.
E quase enlouquecemos na busca. Sério.
O esquema é hobbesiano (o tal todos contra todos). Algumas pessoas
fazem um open house que, in the case, significa que em um determinado dia e durante
tantas determinadas horas, qualquer um pode passar e visitar a casa. Outras
pessoas preferem agendar hora com cada interessado, o que pode ser feito por
email ou telefone. Em geral, telefone, para eles terem certeza de que você está
interessado. Em alguns casos, a pessoa já te faz umas perguntas por telefone
mesmo e te descarta na maior se você não tiver o perfil.
Quando rola a visita, se você gostar, pode fechar o negócio ali na
mesma hora e sair de lá devidamente apartamentado. O proprietário pode decidir
também priorizar a ordem de chegada (ou de visitas) e dar um dia para você
manifestar o seu interesse. Ou pode ser que o dono vá fazer uma lista de
interessados e vai escolher depois quem é o seu preferido, segundo seus
critérios nada objetivos. Nada objetivos, porque, afinal, como bons canadenses
que se prezam eles não perguntam nada da sua vida pessoal. Nem mesmo de onde
você vem. Ah! E sempre tem a tal verificação de crédito que, in the case,
significa que eles vão ver se seu nome não tá sujo na praça.
Mas o mais curioso de tudo isso é que a escolha sobre quem vai levar o
tão sonhado aluguel de um 4½ (isso significa, 2 quartos, sala, cozinha e
banheiro, tá leigos?!?) no melhor lugar do Plateau Mont Royal não tem nada a ver
com quem vai pagar mais. Porque o preço não muda. Em uma ocasião, para um
apartamento no qual estávamos bem interessados, pensei em fazer uma proposta de
aumentar o valor do aluguel para ver se ganhava o coração do proprietário e
dava um cambau no casal que tinha dito que queria fechar o apê antes da gente,
maaaaas confesso que fiquei com medo de ser presa por não saber joga o fair
play do universo dos aluguéis em Montreal e não propus nada além de fazer a
minha cara de coitada e sofrida para o dono ter dó de mim.
O dono não teve dó de mim. Nem esse e nem o outro que não nos escolheu.
Porque eles são canadenses e canadenses são justos e burocráticos e seguem à
risca as regras que eles mesmos criaram e não vão alugar nada para você só
porque você tem essa cara lidinha de coitada e sofrida e limpinha ou porque que
seu marido tem um PhD e também coleciona discos e toca flauta transversal que
nem ele.
Entonces, que no fim das contas, visitamos uns 20 apartamentos no
total. E só dois – doizinhos! – nos interessaram a ponto de fazermos uma cara
de casal limpinho investida para tentar alugá-los. Para o primeiro, fizemos
toda a aplication, loooonga aplication, para sermos avisados horas depois que o
casal que tinha aplicado antes de nós, ficou com o apê. No segundo, estávamos
na fila para ver se o dono ia nos escolher, mas ele não nos escolheu...
Mas o lance é falar sobre os apartamentos que não nos interessaram. Ou
das pessoas que se interessaram muito por nós. (Me-do.). Vou contar os
highlights.
Tipo o italiano. O italiano era um figura. Fomos lá visitar o apê.
Guiba e eu. E ele foi com a nossa cara. Mas num tanto e num tanto, que ele começou
a ligar para mim no dia seguinte até eu ter de ser mal-educada e parar de
atender. Ele me ligou algumas vezes para saber se nós já tínhamos decidido. Até
que (bote um sotaque italiano falando em inglês aqui) “Marina, me fala, qual o problema com o meu
apartamento? É o preço??? Marina, me fala o seu preço e eu fecho!”, eu tentei
argumentar que não era lá bem o que eu tinha em mente. E ele, “ah, você está
procurando o apartamento ideal, né?” Eu, “isso” (achando que estávamos chegando
em algum grau de compreensão aqui, no estilo não vou dizer que não gostei do
seu apê, afinal nem achei seu apê uma bosta, mas eu tenho esperança de achar
algo melhor, mas não quero te descartar assim tão rápido). E ele, “pois
desiste, o apê ideal não existe e se você enrolar, vai ficar sem nenhum”.
Obrigada pelo conselho, néah? Aí, tivemos que cortar relações. Mas juro que o
italiano era figura. Depois da visita, o Guiba soltou um “a gente não quer
alugar esse apê, né?, mas a gente podia chamar esse cara para comer uma pizza
qualquer dia...”. Não alugamos o apê e ainda não chamamos o Domenico para a
pizza.
Teve um outro cara mais estranho ainda. Ele gostou de mim. Mas eu nunca
o vi na vida. Nós fomos visitar o apê e quem estava por lá era a atual tenant,
uma estudante que não devia ter mais de 19 anos. Eu troquei duas palavras com a
menina. Guiba, por sua vez, só disse oi e tchau. Mas eu ganhei o coração dela
sei lá porque cargas d’água. Talvez porque eu tenha pedido licença e agradecido
por ela ter nos recebido na casa dela, o que deve ser um comportamento alto
padrão na batalha dos apês em Montreal. Mas ela falou algo sobre mim para o
proprietário que o impressionou e ele me ligou na mesma noite para querer
fechar o negócio. Mas nesse caso era mais do que osso. O apê era horroroso e estava
nojento. Tipo república em que moram 12 caras e que nunca viu uma faxina. Mas
minha elegância não me permitiu dizer isso para o cara, que continuou me
ligando, mandando mensagem no celular e emails. E eu parei de atender, óbvio.
Em outro apartamento que visitamos, o administrador (que é um zelador
com mais status) tentou nos convencer que ali estava nossa futura casa. O apê
não era péssimo, mas não era super bacana também. Mas olha isso. O cara abria a
casa de todo mundo, na maior, para mostrar os apês. Abria sem bater e
perguntava gritando se alguém estava por lá. E achando que estava ganhando
nossos corações, ele começou a contar sobre como a vizinhança era bacana e dar
detalhes da vida de todos os moradores do prédio. A-han que eu quero o cara
vigiando a minha vida, né? Mas até aí achávamos que aquela podia ser uma opção razoável
– preço, tamanho e localização até estavam valendo a pena. Até que, para
ressaltar a qualidade do prédio que ele administra, o cara avisa que lá não tem
nenhum negro morando: “eu não sou racista nem nada, mas sabe como é, né?, são
hábitos diferentes”. Parei de ouvir e fiquei tentando lembrar se eu sabia se
racismo era crime no Canadá e se eu poderia chamar a polícia para prender o
infeliz. E de lá fomos embora sem lar.
Outro figura master era o quebecois doido. O apê (eu precisaria
explicar o que é apê em Montreal, tá?, porque não é apê que nem estamos
acostumados em Sampa. Em geral, é mais um estilo casa antiga dividida em alguns
apezinhos, o que pode causar umas situações nada razoáveis para os meus
parâmetros e que eles consideram super normal, do tipo ter um quarto sem nenhuma
janela ou um banheiro no meio da sua cozinha) era nada agradável. No nível da
rua e com um porão com mais mofo do que sei lá o quê, onde ficavam as máquinas
de lavar e secar e tinha um quarto que ele queria nos convencer a ser o das
visitas – tipo, super razoável instalar pai e mãe na lavanderia mofada, certo?
Mas isso tudo foi o que eu adivinhei da conversa com ele, porque ele falava
quebecois (que por alguma razão estranha, eles insistem em achar que é língua
francesa) e eu não entendia quase nada do que ele estava dizendo. Guiba já
tinha desistido há muito, mas eu sou mais perseverante. Até que o cara resolve
abrir a porta da cozinha para a rua (todo lugar aqui tem duas saídas – por menor
que seja, é lei, você tem que ter duas saídas para casos de emergências) para
mostrar para a gente que dava para botar um barbecue ali (na ruazinha lateral)
e usar a rua como seu quintal (para parâmetros de Montreal tá tudo ok) e ao
fazer isso um gato entra na casa. E ele, sem sofrer muito, constata
que o gato era o gato dos atual tenants que ele deve ter deixado escapar em
alguma visita anterior e que agora estava retornando ao lar. Aí, o gato sai de novo pela porta e fica na rua. E o
cara, constatando agora que era meio grave perder o gato alheio, vai tentar
resgatá-lo. Estou chorando de rir ao lembrar a cena, mas não vou conseguir
descrever para vocês visualizarem. Mas tento. O cara, meio que vestido de
pijama, um senhor já, conversando com o gato em quebecois (uhuuuuuu le chat...)
e fazendo uma estratégia para agarrá-lo enquanto o gato, com toda a sua gatice que lhe
é peculiar, vai dando o maior baile no cara. Eu teria que desenhar. Ou fazer uma
reprodução em filme. Mas juro, de gargalhar. Eu e Guiba até sentimos que
devíamos ajudar o coitado do gato, mas não conseguíamos parar de rir.
E no fim das contas, visitamos todos esses apartamentos e outros tantos
e paramos, para não mais sofrer. Desistimos. Apostamos que não ficaríamos na rua
e decidimos dar um tempo para aparecer aquele sinal divino. E óbvio que o sinal
apareceu, né? Veio da sala ao lado. Comentei com um colega de trabalho sobre a
busca sofrida e ele me apareceu com o apartamento de um super amigo dele, pronto
para morar, melhor localização ever, super limpo e bem cuidado, grandãozão e
tudo o mais. É praticamente um 6 ½, o que significa que tem 6 cômodos mais
banheiro, tzá?
E é isso, estamos aqui, lindamente instalados e esperando a visita dos
lindos que estão aí. Simples assim. Óia a foto de um pedaço do apê já com a
nossa cara aqui, ó. Que orgulho do lar:
Marina, eu aprendi com a Oprah Winfrey que quando a gente quer que alguém mude tem que ficar apontando o defeito na cara da pessoa até ela se incomodar bastante e mudar! Viu? Funcionou com você! - just kidding.
ResponderExcluirVeio o texto como sempre muito engraçado. Você não precisa postar toda semana, mas escrever a cada 4 meses confere ao seu blog apenas 3 textos/ano e os leitores (no caso eu que entro todo dia para ser se atualizou) sofrem.
Agora o quanto que eu to achando engraçado esse inglês no meio do português? Parece novela da globo! Brinks. Te amo, linda. Vem logo de volta um pouquinho.