sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sobre coisas que podem acontecer quando se está no trânsito (ou melhor, sobre coisas que podem gerar o trânsito)

Fim da tarde de terça-feira, estou dirigindo na Heitor Penteado, naquele trânsito constante, pensando na vida, curtindo um samba e o pôr do sol no meio dos carros. Observando o caos da paisagem urbana, algo me chama a atenção no telhado de uma casa. Ali em cima, um cachorro e um coelho. Os dois ali, sentadinhos, e o cachorro com seu focinho ainda vai dando uma empurradinha (de leve) no pobre coelho, que vai escorregando para a beira do telhado.
Imbuída do meu espírito de protetora dos animais (sim, tenho esse espírito!), me dou conta que tenho que fazer algo para salvar os pobres bichinhos de cima daquele telhado. Detalhe: estou na pista da esquerda, a casa está à direita, um ônibus aparece, tapando a visão do telhado e a possibilidade de eu mudar de pista. Mas... a obrigação de salvar os animaizinhos fala mais forte. Paro o trânsito da Heitor, corto três pistas, dobro na primeira rua, largo o carro mal estacionado e vou correndo até a casa. Toco inúmeras vezes a campanhinha e ninguém atende. Ligo pro meu irmão (que também tem espírito protetor dos animais – até mais do que eu) que depois de chorar de rir ao telefone, me sugere chamar a polícia ou o bombeiro, o que, obviamente, eu não faria, uma vez que seria ridículo dar uma explicação dessas ao atendente do 190.
Fico pensando em como subir no muro para resgatar o cachorro e o coelho indefesos.
Nisso, outras pessoas percebem a situação. Um cara na pista da direita começa a gritar “ô moça, tem um cachorro e um coelho lá em cima”. Outra mulher passa e buzina do tipo “moça, vá lá e faça alguma coisa”. Outra, mais doida do que eu, corta a pista e larga o carro algo entre o meio da rua e em cima da calçada e desce para ajudar e tentar me convencer a subir mesmo no muro.
Caos instalado. Trânsito mais parado ainda.
E eu gritando “ô de casa”, no portão.
E não é que a de casa aparece. Uma mulher e duas crianças. Eu explico a situação.
E ela “ah, isso é normal, eles sempre ficam aí no telhado”.
Eu argumento “o cachorro está empurrando o coelho, ele pode cair”.
E ela “ah, mas se ele cair, ele sabe voltar”.
Eu “então, isso é normal?”.
Ela “é sim, outras pessoas já pararam aqui pra avisar”.
“Outras pessoas já pararam pra avisar?” – eu, pensando “otária!” - “ok, então, feliz ano novo”.
E vou-me embora ponderando se não deveria denunciar a dona da casa para a CET pelo trânsito causado na Heitor Penteado. Será que tem multa pra isso?

Então, se num dias desses lá pelas 7 e meia da noite você estiver num trânsito enorme na Zona Leste da cidade, saiba que pode ser culpa de um cachorro e de um coelho no telhado de uma casa da Zona Oeste.


Tirei uma foto da cena, para enviar por mensagem para meu irmão entender o que estava acontecendo. Aqui, pra comprovar a veracidade de minha história:



E com zoom:



2 comentários:

  1. Hahahaha!
    Tá vendo, só em São Paulo acontecem essas coisas surreais. Ou, talvez, só por ser em São Paulo elas se tornem tão surreais.
    Ester

    ResponderExcluir
  2. eu contei pra uma amiga e ela não acreditou. eu disse que tem foto. aí ela resolveu repensar.
    mas quem acreditaria? nem eu, eu acho.
    mas eu acho que é amizade, do cachorro e do coelho. fica a dúvida...

    ResponderExcluir