segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sobre um fim de semana na praia

Parte I – Sobre como uma deliciosa noite de sexta-feira pode virar um caos

Não sem um tantinho de esforço para me convencer da ideia, aceito o convite do Du para passar o fim de semana na praia.
Noite de sexta em Caraguá, partindo logo cedo para Cigarras na manhã do sábado.
Previsão do tempo: sol com nuvens durante o dia. Chuva no fim da tarde / Noite.

Com fé na Climatempo, vontade de manter o bronzeado e saudade do mar (já? Já!), pegamos a estrada na sexta à noite. Estamos eu, Duza, Léo e Ester.
Trânsito chatinho na serra, chegamos em Caraguá lá pela uma da manhã, junto de uma chuva torrencial que nos impediu de voltar para tirarmos as coisas do carro.
Hora da merecida breja que o Muba e a Lalá já tinham deixado gelando pra gente.

Breja lá dentro, barulho de chuva lá fora, companhias super agradáveis, papo bom, um violão. Início do fim de semana perfeito, certo?
Então siga lendo o relato.

A chuva estava, de fato, muito muito forte. O Du parecia um pouco preocupado com a possibilidade de encher a rua de água, de entrar água na casa, algo assim. Eu tentei dizer aos companheiros de empreitada que deveríamos ouvir as ponderações do Duza, mas a galera estava honestamente convencida que estava tudo sob controle, apesar do rio de água marrom que se formava na rua em frente à casa.

Ok, tudo sob controle, deve ser umas duas e meia, caio numa sonequinha revigorante no sofá.
A parte que eu não vi: a chuva pára – alívio!; a Ester vai à cozinha preparar pipoca; a Lalá resolve dar uma olhada na janela e constata que a água está subindo pela varanda.
Eu, de volta à história, sou acordada pelo Léo que me diz: “Má, vamos ter que deixar a casa”.

Será? “Calma gente, talvez não seja o caso de deixar a casa, vai ver que a água entra e logo escoa”, alguém observa. E a água vai entrando pela porta, pelas paredes, pelos ralos. Até o momento em que eu, dentro da casa, vejo um peixinho (juraram que era um girino, mas eu prefiro pensar que era peixinho) e o Léo, do lado de fora, vê o gato sair nadando.
É, gente, na hora em que o gato sai nadando é que fodeu mesmo!

Trocamos sapatos por chinelos, calças por shorts, enquanto a água invadia rapidamente nossa morada. Ester liga para os bombeiros, que devem ser os caras que sabem o que fazer numa hora dessas, e pede ajuda (“Tem alguma criança, deficiente ou idoso com vocês?”, “Não”, “Então, saiam da casa e vão para um lugar seco e abrigado”, leia-se, “então, se vira, mané!”). A chuva volta a cair. Tentativa semi-bem-sucedida de colocar os carros num lugar mais alto. Tiramos nossas mochilas do carro, trancamos a casa (os bombeiros mandaram trancar a casa) e, com água no meio da canela dentro de casa, vamos em busca de um lugar seco e abrigado, atravessando as ruas inundadas com água acima do joelho.

Parte II – Sobre uma interminável madrugada

Com uma esperança revigorante de encontramos logo um lugar para tomarmos um banho, nos livrarmos da inhaca, e dormir o sono dos justos, saímos em busca de abrigo por Caraguá. Tentamos hotéis, pousadas e motéis, (com direito a uma carona chorada, porque nada era tão perto assim) em vão. Nenhuma vaga num final de semana de janeiro, né pessoal?
E sem sorte, bota sem sorte nisso!, paramos na marquise de uma padaria fechada ao lado de um pessoal de Campinas que ouvia Engenheiros do Havaí no último volume, tomando cervejas cujas latinhas jogavam na rua (depois vai lamentar a enchente, né?) e que também estavam ilhados.
Nossa padaria virou um point de ilhados, todo mundo chegando em Caraguá na madruga, sem conseguir chegar em casa por conta das ruas inundadas. Trágico para todos, certo?
Não! Eles tinham casa, só não chegavam a ela. A nossa, era a única casa embaixo d’água.

A Ester, para se redimir de ter convencido a galera que estava tudo sob controle e com sua inesgotável fé no poder público, faz inúmeras ligações para os bombeiros e para a defesa civil. “Será que não tem um alojamento numa escola, ou algo assim?”. Sem sucesso.
Sem nenhum sucesso!
E é nesse momento que, ainda super bem humorados, constatamos que vamos esperar amanhecer na marquise da padaria e vamos esperar a água descer para tirarmos nossos carros e, assim que tudo isso acontecer, vamos voltar para São Paulo.
É, triste fim de semana na praia. Isso deve ser umas 4 da manhã.

Me vem uma ideia: achar pessoas que tenham casa em Caraguá. Mensagem de texto no celular de alguns amigos e a Biola (salvadora!) responde dizendo que não está por lá, mas que sua família pode nos abrigar.
Oba! Abrigo seco e com possibilidade de banho. (Nessas horas, sentimos que perdemos a vergonha, mas a dignidade jamais. Higiene já!)
Mas com um detalhe, nada fácil de superar, estávamos em Massaguaçu e a casa da Biola é em Indaiá.
Sem transporte nenhum, com ruas inundadas, nenhum carro passava (aliás, só chegavam carros avariados e motoristas surtados por lá – e a Ester ainda encontra um amigo dentre os que chegam para se juntar a nós na padaria), não tínhamos como chegar em Indaiá.
Ainda com fé no poder público, a Ester tenta convencer o funcionário da defesa civil que, se eles não vão nos abrigar, eles têm a obrigação de, pelo menos, nos transportar para o abrigo que arranjamos.
[Aliás, se o Toninho (da Defesa Civil) e o Devanildo (dos bombeiros) estiverem lendo isso aqui, “Muito obrigada pela bela ajuda que vocês nos prestaram, viu!”.]

6 da manhã. O Léo já fez da sua mochila um travesseiro. Eu durmo com a cabeça apoiada nos joelhos. Os campineiros colocam um forró no último volume. A Ester avista um táxi! Táxi! Obviamente ele está cheio, mas ela o convence a voltar. E ele volta.

É aí que o Seu Ranieri entra na história. Temos transporte. E ele vai levar 6 de uma vez.
[O arranjo possível dentro do táxi para transportar nós 6 é melhor nem comentar (é um tanto constrangedor admitir que eu tinha que levantar minha bunda pro Seu Ranieri trocar a marcha, né gente...).]
E ele sabe os atalhos para fugir da rodovia inundada e da polícia (mas nem precisava fugir da polícia porque, a essa altura, a Ester já tinha pronto seu discurso de advogada para livrar o Seu Ranieri da multa, argumentando sobre a ineficiência do poder público em nos ajudar e o nosso estado de necessidade).
E o Léo, dentro do carro, tentando explicar o seu momento zica pro Seu Ranieri (ih!, esqueci de contar que, enquanto estávamos na padaria, um cachorro passante ainda deu uma mijadinha na mochila do Léo. É, isso ilustra bem a zica.) e tentar convencê-lo a andar numa velocidade mais razoável e compatível com a serra, a chuva, os entulhos no caminho.
[É, Léo, é o retorno de Saturno, meu caro. E o Duza ponderando que, com seus 32 anos ele já deveria ter passado pelo retorno de Saturno, mas que agora ele tá vivendo o do Léo...]

Sãos (não sei se tanto assim – já que a leptospirose fica incubada até 10 dias) e salvos, chegamos à casa da Biola. O Rodrigo, primo dela (salvador!) nos recebe super simpático e conversador às 7 da manhã. E depois de um banho esfregação saizicaeleptospirose, caímos no sono em camas quentinhas e sequinhas.

Parte III – Sobre como as coisas se ajeitam

Acordamos lá pelas 11. A tia da Biola (outra salvadora) tinha preparado um super café-da-manhã pra gente. Na TV, detalhes sobre os estragos da madrugada “Em Massaguaçu houve o vazamento do córrego e do esgoto da região”. Esgoto???? Bem que eu digo que tem informação que é melhor não ter!
Secos e de barriga cheia, conseguimos dois táxis (é, não íamos chamar o Seu Ranieri de novo, né?) e partimos para ver o estado das coisas.

Chegada em Caraguá nada animadora. Vários caminhos diferentes para chegar na casa e, por fim, a constatação “é isso aí, continuamos embaixo d’água, bora molhar os pezinhos de novo”. E chafurdados na lama, mais uma vez, entramos em casa.
Verificação dos estragos, carro do Muba com água dentro. Meu carro, úmido. Ambos funcionam, ainda bem! A casa? A casa já teve melhores momentos.
Du mede a água lá fora. Será que o carro passa?
A água vai escoando numa velocidade de lesma. E as minhocas por ali, passeando.
Ok, vamos esperar. Fome? Bolacha água e sal com atum, no meio da lama. E a Ester ainda quis fazer um macarrão...
Du mede a água. Agora deve dar.
Arranjos vários, manobras várias e não se pode parar de acelerar. Só não pára de acelerar!
Muba tira seu carro. Sucesso! Léo tira o meu. Sucesso!
Algumas coisas que estavam na casa vão carregadas por nós, com água até a canela.
A vizinha, super solícita, empresta o chuveirão da casa para a gente lavar as pernas, tirando a lama, a inhaca e a leptospirose e, pronto!, podemos ir embora.
4 da tarde de sábado, almoço num árabe, a caminho da Cigarras, aí, começa o verdadeiro fim de semana na praia.

Lembram que eu disse que 2009 seria bombástico? Alguém ainda duvida?

E para comprovar, foto do Léo e do Duza, deixando a casa, na madruga:



Um comentário:

  1. 1a. glosa à história: Marina esqueceu de dizer que não só foi convencida pelo Du (com algum esforço) a ir para praia como, após ter sido convencida, convenceu-me (com muito esforço) a acompanhá-la no final de semana-enchente. Agora que já escapamos de todas (ou quase todas) as possíveis conseqüências nefastas do ocorrido, posso dizer: nos divertimos!

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