quinta-feira, 5 de março de 2009

Sobre diálogos insólitos

[A Gio me pergunta se as coisas bizarras passaram a acontecer comigo depois que criei o blog. Na verdade, elas sempre aconteceram, mas agora eu tenho um blog para publicá-las.]

[E, é fato, minha vida é cheia de coisas surreais. Bom é que tem testemunha, provas e tudo o mais. Assim, não viro a Forrest Gump dos blogs, né?]

E tem todo esse lance de pessoas que começam a falar, emitindo suas opiniões sobre os mais diversos assuntos - super preconceituosas, em geral - sem ter a mínima ideia de quem é seu interlocutor.
Eu sempre me sinto enrascada nessas horas. Porque sou incapaz de concordar com o sujeito, tenho preguiça de discutir com gente imbecil e se falo o que penso, ainda corro o risco de comprar uma briga.

Então que estamos num táxi no Rio. Eu, Andi, Ester e Bruno.
E o motorista é dessas pessoas bem sem noção.
E ele começa a falar e falar e querer saber como é São Paulo, e que ele quer vir pra cá na balada. E pergunta se a gente gasta, tipo, uns 200 reais por noite na balada por aqui e tals.
E nós não somos, nem de longe, o tipo de gente que gasta 200 reais na balada...
Tentamos argumentar uma coisa ou outra, manter o diálogo educadamente.
Mas vai ficando difícil...

Então ele fala do Flamengo e do Corinthians e xinga o Ronaldo porque ele saiu com travestis. E xinga a namorada do Ronaldo que ficou com ele depois disso.
E tenta a comunicação: "Vocês, meninas, perdoariam seu namorado se ele tivesse saído com travestis??? Porque, claro, se fossem mulheres, a carne é fraca, o cara é homem e tal, mas travestis?!?!".
Eu tento um "É, meu caro, acho que não é bem assim. Acho que dá bem na mesma se são mulheres ou travestis e...".
Mas o motorista não quer ouvir a opinão sincera das meninas "Vocês não perdoariam, eu tenho certeza, porque isso é coisa de boiola".
Vai ficando cada vez mais difícil.

E então ele pergunta pro Bruno pra que time ele torce. O Bruno, ainda tentando manter o diálogo, responde que torce pro São Paulo, mas que, na verdade, ele nem curte futebol.
O motorista "Não curte futebol?!?! Não joga bola? Que esporte você pratica?"
Bruno "Ioga"
Motorista "Ioga?!?! E isso é esporte de homem?!?!"
O Bruno "Eu sou homem e faço ioga".
Tá ficando impossível, certo?

Pensam que o cara ficou constrangido?!?! Claro que não.
Ele emplaca outro assunto.
A mulher de um jogador que está jogando em algum lugar do Oriente Médio recebeu uma proposta de um sheik - ganharia um poço de petróleo para ficar com ele.
O motorista, para as meninas: "Podem falar a verdade, meninas, vocês não ficariam com o cara por um poço de petróleo? Hein? Fala. Claro que ficariam."
Nós, as meninas, sem nenhuma vontade de responder. A Ester tenta um "Claro que não".
O motorista "É claro que ficariam, porra, pensa só, um poço de petróleo e tal, é dinheiro pra toda vida, blábláblá".
O Bruno para o motorista: "Você ficaria?"
O motorista "Com uma mulher, por um poço de petróleo??? Claro que ficaria."
O Bruno não perdoa: "Não, não, com o sheik mesmo. Ficaria?"
Motorista, indignado: "Pô, cara, aí você me fode. Eu sou homem, pô, esse lance de bigode não é comigo, não..."
Deu, né?

Eu: "Moço, a gente desce aqui".
Motorista: "Mas tá longe..."
Eu "Aqui!".

E seguimos a pé o resto do caminho.
E a Andi - que se recusou a trocar meia palavra com o motorista durante todo o trajeto - "e o pior é que a gente sabe que ele ficaria com o sheik pelo poço de petróleo..."

4 comentários:

  1. boa história má, bela narrativa!
    fiquei em dúvida se consigo ser assim direto ou se foi bondade sua. :)

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  2. Deliciosa Má!
    e Brunola, vc é exatamente assim!

    beijos com saudades dos companheiros de Rio,

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  3. ahaha eu e o lucas sempre ficamos indgnados com essa escola em que os taxistas aprendem a dirigir e a serem fascistas, tudo num pacote só. É incrível, nao falha nunca.

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  4. Saudades do Rio, dos bons amigos bem perto, do carnaval, dos bloquinhos e... das boas histórias que essa mistura toda traz! Adorei a narrativa (sabe que fica melhor agora, descrita por você, do que na hora? Agora tem bom-humor, antes tinha uma grande irritação: continue sendo a mágica das boas lembranças, tá bom? É um papel honrado e honroso em nossas vidas!).
    Beijinhos,
    Ester.

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